São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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Tipos de escravidão

SÍLVIO LANCELLOTTI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Em meados dos anos 70, no poderoso beisebol dos EUA, aconteceu um episódio muito parecido com a atual "Decisão Bosman", que está transformando o futebol da Europa.
Então, um arremessador, Andy Messersmith, atleta bem mais representativo do que o belga Jean-Marc Bosman de agora, entrou na Justiça com um pedido inusitado. Seu contrato com os Dodgers de Los Angeles estava terminado, mas ele continuava preso à agremiação. Uma espécie de Lei do Passe.
Messersmith queria sua liberação. A Justiça deu ganho de causa a ele, que se transferiu aos Braves de Atlanta.
Daí, arrombaram-se as portas do mercado no beisebol. Logo surgiu a figura do "free agent" -o jogador com passe livre. Os craques deliraram. Rapidamente, porém, sempre mais espertos e muito mais cínicos, os cartolas encontraram uma solução.
Sempre que um jogador entrava na fase final de seu contrato, prestes a se tornar um "free agent", era negociado com outra agremiação. Não recebia bonificação pela transferência e, obviamente, ainda mergulhava num purgatório de meses, às vezes longe de casa e da família.
Em dois anos, de cerca de 200 beisebolistas com passe livre, quase 90% viveram tal castigo, uma nova forma de escravidão.
Como existe um preço para a liberdade, os jogadores se obrigaram a pagá-lo. Montaram um sindicato muito mais forte do que o cartel dos patrões. Gastaram fortunas com advogados.
E, depois de longa briga, as duas partes se reaproximaram. Criou-se uma nova ordem, justíssima, para regular a situação.
Primeiro, antes de exercer sua opção, o jogador em fim de contrato hoje precisa informar seu clube com antecedência. Por sua vez, depois de determinado tempo de carreira e clube, o jogador pode vetar sua transferência no tal período de aviso prévio. Nada mais simples. Deu certo.
Fica a lembrança do episódio.

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