São Paulo, domingo, 3 de março de 1996
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A crise do Estado social

SILVIA BITTENCOURT
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE BERLIM

Klaus Zwickel, 56, presidente do sindicato dois metalúrgicos alemães -a IG-Metall-, criticou os empresários de seu país por só pensarem em economizar com pessoal. Numa entrevista por escrito à Folha, Zwickel disse considerar "grotesco" que isto aconteça num dos países mais ricos do mundo.
O presidente da IG-Metall defendeu uma reforma na distribuição de benefícios e encargos sociais, mas afirmou que esta não deve ameaçar o Estado social que vigora na Alemanha. Por isso, afirmou, seu sindicato rejeita novos cortes no salário-desemprego e nos auxílios sociais.
Ex-fabricante de ferramentas, Zwickel preside a IG-Metall -o maior sindicato do mundo, com quase 3 milhões de membros- há pouco mais de dois anos. Desde 1991, foram cortados 550 mil empregos na metalurgia alemã.
Cerca de 6 milhões de pessoas estão desempregadas no país, mesma cifra registrada nos últimos anos da República de Weimar, na década de 30.
Foi Zwickel quem propôs, em janeiro passado, um pacto pelo trabalho na Alemanha, iniciativa que agora está sendo tentada em outras categorias.
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Folha - A IG-Metall declarou-se disposta a fazer uma série de concessões. O que o sr. espera agora dos empregadores e do governo?
Klaus Zwickel - Dos empresários esperamos para este ano 110 mil novos empregos, o que corresponde a cerca de 3% do total de empregos na indústria metalúrgica alemã. Isto seria possível, de forma mais rápida, por meio da conversão de horas extras. Reivindicamos que as horas extras sejam compensadas não mais com pagamentos, mas com folgas. Assim, devem ser empregadas pelo menos 80 mil pessoas, já que no ano passado foram registradas 250 milhões de horas extras na indústria metalúrgica do país. Do governo, esperamos que cumpra os compromissos recém-assumidos com empregadores e sindicatos. Levo muito a sério o acordo acertado em Bonn, no sentido de diminuir pela metade o desemprego até o ano 2000. Além disso, exigimos que o governo não faça mais cortes no salário-desemprego e nos auxílios sociais.
Folha - O sr. acredita que, com base nas suas propostas, o desemprego em massa possa ser combatido?
Zwickel - A IG-Metall pode fazer apenas a sua parte. Negociamos com os empregadores da indústria metalúrgica, para que, neste setor, o índice de desempregados diminua pelo menos em 110 mil por ano. Eu espero que nossa investida inspire outros setores.
Folha - O sr. acha que os sindicatos representam os interesses dos desempregados de forma eficaz?
Zwickel - Os sindicatos sempre existiram para representar os interesses dos que trabalham. Mas isso mudou nos últimos anos. Com o colapso da economia planificada na antiga Alemanha Oriental e com a reunificação, subiu de forma assustadora o índice de desempregados nos novos Estados alemães. E foi justamente a IG-Metall que se tornou, nos primeiros anos da reunificação, o maior apoio para os desempregados alemães-orientais. Hoje, os sindicatos criam empregos, fazem propostas político-industriais e estruturais e assistem os desempregados e suas famílias.
Folha - A seguridade social na Alemanha é tida como uma garantia para a estabilidade política. Por outro lado, o alto índice de desempregados e o número crescente de aposentados vêm pesando sobre o Estado. Até que ponto se deve sacrificar benefícios do Estado social alemão?
Zwickel - O Estado social da Alemanha, um dos países mais ricos do mundo, não pode ser demolido. Mas consideramos importante haver uma reforma. Novos cortes no salário de desempregados e aposentados seriam medidas descaradas. Queremos chegar a uma nova distribuição de benefícios e encargos. É realmente grotesco que a Alemanha seja o segundo maior país exportador do mundo, que os lucros explodam, que as cotações da bolsa disparem e que, ao mesmo tempo, os empregadores só pensem em economizar nos custos com pessoal.
Folha - Os altos custos com salário são vistos como uma das causas do desemprego na Alemanha. Custos mais baixos garantiriam investimentos em empregos?
Zwickel - Os custos com salário são realmente altos. Seria importante isentar as caixas da aposentadoria e do seguro-desemprego de obrigações que não lhes pertencem. Muitos encargos estatais vêm sendo financiados por estas caixas.

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