São Paulo, domingo, 3 de março de 1996 |
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Fábio Jr. faz novo tributo a seu pai
DENISE CHRISPIM MARIN
Aproveitou na hora a oportunidade de fazer, pela segunda vez, uma homenagem a seu pai, assassinado há 14 anos, quando trabalhava em seu táxi durante a madrugada, em São Paulo. O primeiro tributo havia sido a composição "Pai", tema de abertura da novela "Pai Herói", da Rede Globo. Dias depois do convite, ele ainda sugeriu a troca do nome do personagem e da novela, um remake de uma produção argentina, que foi ao ar em 1972 e 1973. Propôs Antonio -o nome de seu pai- em vez de Rolando. "Antonio Alves, um Taxista", produção independente de US$ 5 milhões do Ronda Studio, da Argentina, será a primeira produção conjunta dos principais sócios do Mercosul. Falada em português e com elenco formado por 26 atores brasileiros e 5 argentinos, será exibida a partir de abril, pelo SBT. Depois, dublada para o espanhol, chegará ao público do país vizinho. "Vou precisar de algum tempo para baixar essa emoção. Estou fazendo a história do meu pai", afirmou Fábio Jr., durante entrevista exclusiva à Folha, em Buenos Aires, onde ocorrerão as gravações das cenas internas. Fábio Jr. e sua mulher, Guilhermina Guinle, devem formar o par romântico na novela -uma tentativa do SBT de reeditar a fórmula dos anos 70, de expor na tela casais da "vida real". Nos últimos dias, ambos estiveram marcando o roteiro juntos e buscando uma casa no distrito de San Isidro, uma das zonas privilegiadas da Grande Buenos Aires. Durante a entrevista, ele comentou por que esteve quatro anos distante dos estúdios das telenovelas, falou da homenagem a seu pai e declarou que se considera mais compositor do que ator. Recusou-se, no entanto, a dar o valor de seu cachê -acertado diretamente com Silvio Santos. Folha - Por que você passou quatro anos sem trabalhar em novelas? Houve algum problema pessoal ou com produtores? Fábio Jr. - Não, não houve nada. Eu já havia passado até mais tempo sem fazer novela. Entre "Roque Santeiro" e "Pedra sobre Pedra", a última novela na qual trabalhei, foram seis anos. Nesses intervalos, eu fico gravando discos, viajando. O que eu gosto de fazer mesmo é cantar. Todo o ano, lanço um disco, faço minha turnê. Mas agora, eu não estava pensando em fazer novela. Quando o Silvio falou que era um taxista, eu disse: opa! Não era meu sonho fazer um taxista. O Silvio foi quem sugeriu. Eu o faria na Rede Globo, no SBT, na Manchete, na Bandeirantes. Folha - Você tinha algum compromisso anterior com a Rede Globo? Fábio Jr. - Não. Há dez anos, só trabalho por obra certa. Fecho acordo pela novela e caio fora. Não fico contratado. Folha - Nesses quatro anos, você recebeu convites para fazer novelas? Quais você recusou? Fábio Jr. - O último foi para a minissérie "O Fim do Mundo", da Rede Globo. Folha - O Jorge Tadeu, de "Pedra sobre Pedra", foi seu personagem mais marcante? Fábio Jr. - O retratista (com sotaque nordestino)? Não. Para mim, marcou mais o personagem Helinho, do "Ciranda Cirandinha", em 1978. Eu estava passando pela mesma situação que ele, que era músico e tocava na noite. Folha - Você estava entrando na televisão? Fábio Jr. - Foi quando as pessoas tomaram mais conhecimento do meu trabalho. Em 1977, já havia feito a novela "Nina". Folha - Qual sua composição mais marcante? Fábio Jr. - "Pai". Quando eu estiver velhinho, ainda vou estar cantando essa música. Folha - Você optou por dar preferência à sua carreira de compositor? Considera-se mais compositor do que ator? Fábio Jr. - Eu me considero. O grande barato da viagem é sentar e compor. Depois, vem o palco. Folha - Você já mencionou anteriormente que havia homenageado seu pai com uma música. Agora, é a possibilidade de fazer outro tributo? Fábio Jr. - É. Só falta escrever um livro, fazer um filme. Mas não sei se vou fazê-los. Folha - Você já havia imaginado representar um taxista? Fábio Jr. - Não, nunca. Por isso o impacto. Eu mesmo fiquei surpreso de ter aceito. Não pensava em fazer novela tão cedo. Folha - Como foi o convite de Silvio Santos? Fábio Jr. - Ele telefonou para casa, me contou que o personagem era um taxista. Eu topei por telefone. Folha - Você não viu o roteiro, não sabia qual era a história nem se o taxista se transformava em criminoso? Fábio Jr. - Nada. Folha - Como era sua relação com seu pai? Fábio Jr. - Foi ele quem me deu meu primeiro violão. Na época, era instrumento de vagabundo. Ele escrevia poesias para a minha mãe, fazia letras de música, tocava o violão. Minha mãe era professora de piano. É como se eu estivesse realizando o sonho que ele não pôde realizar. Folha - Seu pai trabalhava como taxista e compunha? Fábio Jr. - E tinha também uma banca de jornal. Eu e meus irmãos nos revesávamos. E meu pai ficava no táxi. Meus pais se separaram, e eu ficava sempre atrás dele. Minha mãe ficava brava. A gente saia no táxi dele para conversar e vivia no Brooklin. Folha - Quando seu pai morreu? Fábio Jr. - Ele morreu há 14 anos. Foi assassinado. Folha - Ele estava trabalhando no táxi quando foi morto? Fábio Jr. - Estava na madruga. Entraram dois bandidos. Folha - Na época, você já trabalhava como ator e compositor. A homenagem se torna mais forte para você por essas razões? Fábio Jr. - Claro. É mais contundente. Por isso eu topei. Folha - Como você se vê na pele de um taxista? Já está imaginando seu personagem, como vai falar, gesticular? Fábio Jr. - Eu ainda estou muito emocionado com isso. Não sei como vou fazer. Vou até precisar de algum tempo para baixar essa emoção. Eu estou fazendo a história do meu pai. Como decidi tudo muito rápido, acho que "ele" também vai me ajudar durante as gravações. Vou encontrar um caminho, a embocadura certa. Não estou preocupado com isso. Folha - O nome Antonio para o personagem foi sugestão sua? Fábio Jr. - Na verdade, foi idéia de Guilhermina. Eu sugeri e, dois dias depois, me disseram que havia sido aprovado. Aí eu disse que era o nome de meu pai. Folha - O sobrenome também é igual ao de seu pai? Fábio Jr. - Não. Ele era Antonio Luis de Oliveira Airosa Galvão. Folha - Quando Silvio Santos fez o convite, ele mencionou que seria a primeira produção do Mercosul e que uma parte seria gravada em Buenos Aires? Fábio Jr. - Não, isso foi no dia seguinte. Aí eu pensei, puxa vai ser filmado na Argentina? Vou ficar como uma bola de pingue-pongue. Acabei topando. Foi tão rápido, há um mês, e eu já estou aqui. Folha - Como você se organizou para isso? Fábio Jr. - Primeiro, pensei em tirar o pé do acelerador com os shows para ficar à disposição da novela. Gravar durante a semana e fazer shows de sexta-feira a domingo é impossível. Vou ver meus filhos daqui a seis meses? Como pode? Folha - Então, enquanto você estiver gravando em Buenos Aires, não vai fazer shows? Fábio Jr. -Muito poucos. Dois por mês. Não aguento ficar sem cantar. Pelo menos um bocadinho. Folha - Mas haverá gravações em São Paulo. Fábio Jr. - Lá, eu fico mais perto das crianças. Acabo de gravar e passo na casa da mãe delas. Mas não vou fazer mais shows porque a novela tem muito texto, o personagem é importante e eu quero me concentrar nisso. Folha - Você e Sônia Braga foram contratados especialmente pelo Silvio Santos. Qual o valor de seu contrato? Fábio Jr. - Não vou dizer. Folha - Estão comentando que seria de US$ 500 mil. Fábio Jr. - Não vou falar. Folha - Não pode ao menos dizer se está "quente" ou "frio"? Fábio Jr. - Está "frio". Claro que, se está "frio", é para cima. Folha - Você estabeleceu como condição que Guilhermina, sua mulher, participasse da novela? Fábio Jr. - Não. Tanto que ela negociou separadamente. Eu achei melhor não misturar as coisas e cada um cuidar de sua vida. E eu jamais diria que faria a novela apenas se ela também fosse contratada. Eu cuido da minha carreira e ela, da dela. Folha - Mas escolheram justamente vocês dois para o par romântico. Fábio Jr. - Quem chamou Guilhermina foi Walcyr Carrasco. O meu nome estava cogitado, mas eles não acreditavam que eu fosse aceitar. Na Rede Globo meu apelido é "Fábio Jr. Não". Digo sempre "agora não". O Silvio tentou, e eu topei. O nome dela estava cogitado até antes. Folha - Como você encara a importância dessa novela, a primeira produção do Mercosul? Fábio Jr. -Pelo menos para a televisão é superimportante essa integração. Tomara que, atrás disso, venha mais coisa. Folha - Você vai passar os quatro meses de gravação em Buenos Aires? Fábio Jr. - Não. Vou ficar indo e voltando a São Paulo. Eu tenho amigos de 20 anos atrás, com quem falo até hoje. Quando estou fazendo um show, eu ligo. Sinto falta disso e das crianças. Quero voltar para lá para ficar com os meus filhos, com os meus amigos. Texto Anterior: Sônia quer filmar a vida de Madonna Próximo Texto: Guilhermina Guinle estréia na televisão Índice |
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