São Paulo, segunda-feira, 4 de março de 1996
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Vocalista é o último a ser achado

BETINA BERNARDES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Vi o avião passando baixinho, parecia que soltava fogo da turbina. Depois ele parou na serra." A afirmação é do desempregado José Reis, 28, que estava em um bar próximo à pedreira da Cachoeira, onde fica a estrada que leva ao local do acidente.
A operação de resgate começou à 0h de domingo. Cerca de 30 homens do COE (Comando de Operações Especiais da PM) e 20 do Corpo de Bombeiros vasculharam a mata com lanternas. Quando o dia clareou, às 5h45, chegou o primeiro helicóptero. Integrantes do COE sobrevoaram a área e localizaram os restos do avião.
O avião rasgou a mata. A 1.200 metros de altitude, por uma extensão de 400 metros, era possível encontrar pedaços do Learjet entre as árvores derrubadas, em meio a um forte cheiro de querosene (combustível do avião). Formou-se uma clareira no local onde a parte dianteira do Learjet foi encontrada, após 20 minutos de caminhada pela serra.
Uma das asas ficou pendurada em uma árvore. Às 6h45 foi encontrado o primeiro corpo. A maioria dos ocupantes do Learjet ficou irreconhecível. Os bombeiros resgataram membros dos corpos por um raio de cem metros na mata.
Marcos César Carbone, 34, tio de Dinho, reconheceu o corpo do vocalista, último a ser localizado, pela única parte de seu rosto que permaneceu ligada ao tronco, um pedaço do maxilar. O vocalista perdeu um braço e uma perna.
Pedaços das roupas listradas usadas pelos Mamonas em shows ficaram espalhadas pela mata. Uma bermuda quadriculada nas cores laranja e branco estava a 50 metros do local onde foi encontrado o primeiro corpo. Quatro mochilas dos integrantes permaneceram intactas. Uma das jaquetas de couro com a inscrição do grupo foi achada ao lado do painel do avião.
As partes resgatadas dos corpos eram embrulhadas em lonas. O COE usou serras elétricas para derrubar árvores e permitir que o helicóptero da PM pudesse carregar os cadáveres para um platô da pedreira da Cachoeira. O primeiro foi içado às 9h30 e o último, às 10h45.
"Eles mudaram de companhia aérea umas quatro semanas atrás, reclamavam que os aviões sempre davam pane", disse Carlos Batistela, tio de Dinho, que acompanhou toda a operação na mata.
"Quando caiu aquele avião no Campo de Marte, o Dinho ficou apavorado." Segundo o tio, o vocalista reclamou na manhã de sábado que o Learjet usado atualmente estava com Durepox nas fuselagens.
Cerca de cem pessoas se aglomeravam dentro da pedreira durante o resgate. Do lado de fora, mais 200 pessoas tentavam entrar.
O irmão do guitarrista Alberto Hinoto, Maurício, foi ao local onde os corpos foram encontrados e saiu assim que viu o primeiro. Ana de Almeida, 18, namorada de Alberto, também foi à pedreira.
"Falei com o Dinho no sábado e ele perguntou sobre o roteiro da viagem a Portugal, coisa que nunca fazia", disse Valéria Campo, secretária do grupo, abraçada a Ana.

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