São Paulo, segunda-feira, 4 de março de 1996
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Clássico sobre Tropicália retorna às livrarias

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O professor Celso Favaretto autografa o livro "Tropicália - Alegoria, Alegria" hoje, a partir das 19h, na Mr. Book, em São Paulo.
Com sua primeira edição esgotada há anos, a obra retorna às livrarias de cara nova, em lançamento da Ateliê Editorial. O texto foi revisto e ganhou apresentação da professora Olgária Matos e prefácio do compositor Luiz Tatit.
Publicado originalmente em 1979, após ser apresentado como dissertação de mestrado na Universidade de São Paulo, o livro de Favaretto se mantém atual. Junto com "O Balanço da Bossa e Outras Bossas", de Augusto de Campos (editora Perspectiva), virou obra de referência sobre o Tropicalismo e a música popular brasileira do final dos anos 60.
A análise de Favaretto decola a partir de duas canções pioneiras: "Alegria, Alegria" (de Caetano Veloso) e "Domingo no Parque" (de Gilberto Gil).
Apresentadas durante o Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, em outubro de 1967, ambas se transformaram em marcos da eclosão da Tropicália. Ainda que, segundo Caetano, tivessem nascido mais pela busca de algo novo do que por intenção de deflagrar um movimento.
A partir dessas e outras canções, Favareto define os "ingredientes da mistura tropicalista" -uma receita heterodoxa, temperada com doses de humor, deboche, ironia, paródia, influências do rock e da cultura pop e pitadas de encenação herdada do "happening". O ensaio ganha corpo com uma minuciosa análise de "Tropicália ou Panis et Circencis", o histórico disco-projeto que reuniu a linha de frente do movimento (Rogério Duprat, Tom Zé, Capinan, Os Mutantes, Torquato Neto, Gal Costa e Nara Leão, além de Caetano e Gil), em 1968.
Apontando as relações entre as letras e melodias das canções tropicalistas, seus arranjos instrumentais, gestos e procedimentos cênicos, o autor desvenda uma estética que, na época, chegou a ser confundida com mera anarquia pelos críticos mais conservadores. Pena que Favaretto não tenha se animado a escrever um adendo ao texto original, analisando também "Tropicália 2", o álbum comemorativo que Caetano e Gil gravaram em 1993. Idéia que Luiz Tatit, por sinal, esboça no novo prefácio.
Segundo ele, ao despontar em um país atravessado por maniqueísmos de várias ordens, que também se manifestavam no meio artístico, a Tropicália introduziu o conceito estético de "fratura".
Duas décadas e meia depois, já em um Brasil democrático e mais avançado esteticamente, mas ainda incapaz de resolver problemas em várias instâncias, Caetano e Gil sugerem no álbum "Tropicália 2" a idéia de uma "sutura".
Reler o livro de Favaretto é um saboroso aperitivo para a merecida comemoração do 30º aniversário da Tropicália, que acontece em 1997. Afinal, em pouco mais de um ano de existência, esse movimento deixou uma atitude estética que continua influenciando a cultura brasileira até hoje.

Livro: Tropicália - Alegoria, Alegria Autor: Celso Favaretto Editora: Ateliê Editorial (tel. 011/442-3896) Lançamento: hoje, a partir das 19h, na livraria Mr. Book (r. Gaivota, 1.467, tel. 011/535-465, Moema, zona sul de São Paulo) Quanto: R$ 16,00

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