São Paulo, segunda-feira, 4 de março de 1996
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Melodrama cotidiano vira novela no domingo

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA FOLHA

Aos domingos, o horário das novelas é ocupado pelo não menos concorrido "Em Nome do Amor" de Sílvio Santos.
Seguindo um formato que não é só brasileiro, o programa promove romances e oferece oportunidades de reconciliação a voluntários.
Aqui, o melodrama de todo dia pode ser tão ou mais emocionante que as histórias de nossos folhetins eletrônicos.
A ânsia generalizada pela exibição pública dos dramas do amor privado sofistica e estimula o romance corriqueiro. Se bem intrincado, cada envolvimento amoroso pode ser vivido como assunto potencial de namoro na TV.
O quadro "Quer Namorar Comigo?" traz um clipe de alguém interessado em arranjar um par. O pretendente desfila toscamente suas qualidades e medidas via satélite, como quem se candidata à carreira de modelo.
"História de Amor" vai além do romance entre moças e rapazes. Seleciona também casos dramáticos de filhos ilegítimos, menores abandonados, ou trombadinhas regenerados pela caridade de um pai adotivo. E os reconstitui em capítulos, regados a lágrimas sempre temperadas pela ironia meio fria do apresentador.
Sílvio Santos exerce seu talento de anfitrião. O material bruto ajuda. Os roteiros são de fazer inveja a telenoveleiros experimentados. Os índices de audiência alcançados pelo programa são responsáveis pelas mudanças recentes na grade de programação da Globo.
No comando, Sílvio Santos condensa vários papéis. Ele encarna o padre, o professor, a autoridade-mor. Popularizando as câmeras da emissora, ele oferece uma chance de notoriedade. Com sua assistência, os protagonistas arriscam passos importantes em seus destinos.
Programas como "Em Nome do Amor" revelam como a televisão de fato se imiscui nas relações cotidianas, contribuindo para fragmentá-las. Angústia e ambiguidade se diluem nas escolhas rápidas, quase instantâneas.
Como se as câmeras servissem para eliminar tensões e sofrimentos, ou pudessem compensar a dificuldade corrente na vivência de emoções viscerais.

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