São Paulo, terça-feira, 5 de março de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Peixes viram sapato e bolsa no AM Inpa desenvolve tecnologia para couros ANDRÉ MUGGIATI
O Inpa (Instituto de Pesquisas da Amazônia) desenvolveu técnicas para o aproveitamento do couro de peixes da região amazônica, com bons resultados em termos de resistência e acabamento. Segundo ele, países africanos, como a África do Sul e o Zaire, já possuem tecnologia para o aproveitamento do couro de peixes e dominam hoje o mercado europeu. "Nesses locais, já há aproveitamento do couro, mas eles não têm as variedades daqui", afirma. A pele de uma variedade de peixe da Austrália -país que também domina essa técnica- é vendida até a US$ 50 no mercado europeu. O Inpa já conseguiu fazer bolsas e sapatos a partir de couro de tucunaré, surubim, piramutaba, dourado e até piranha. O aproveitamento de couro de peixe, principalmente da tilápia, já é feito em alguns Estados, como Rio Grande do Sul e Goiás. Nesses locais, como na Amazônia, os produtores esbarram na dificuldade de obter matéria-prima. Os grandes frigoríficos que comercializam a carne do peixe não têm interesse em vender o couro. "O aproveitamento do couro exige, na sua retirada, cuidados que não são tomados pelos frigoríficos", afirma ele. O Inpa compra o couro de peixe usado no projeto de frigoríficos de Manaus ao preço médio de R$ 0,60 o quilo. Nílson Carvalho diz acreditar que, com o interesse do mercado, o aproveitamento pode se tornar interessante para esses produtores. "Alguns frigoríficos jogam fora cerca de duas toneladas de couro por dia", diz Carvalho. A tecnologia do Inpa foi desenvolvida após dois anos de estudos. O projeto foi financiado pela Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), ao custo de R$ 85 mil. O curtimento do couro de peixe é semelhante ao de boi, com pequenas modificações no processo. As modificações são feitas no tempo das etapas de curtimento, na temperatura e no pH das reações químicas. Testes feitos pela empresa Hoechst, em São Paulo, demonstraram que o couro de peixe desenvolvido pelo Inpa é tão resistente quanto o de boi. O trabalho do Inpa está voltado para o desenvolvimento de tecnologia para exportação do couro na variedade "wet-blue" (sem acabamento final). "O ideal para o Brasil seria exportar o couro dessa variedade. Os compradores poderiam dar o acabamento que desejassem, de acordo com o que fossem fabricar", afirma Carvalho. Texto Anterior: CALENDÁRIO RURAL 96 Próximo Texto: Produtores já utilizam tilápia Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |