São Paulo, terça-feira, 5 de março de 1996
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Terminais de agências bloqueiam fraude

ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Os computadores das antigas agências do Banco Nacional, hoje sob controle do Unibanco, continuam sem acesso às 652 operações de crédito usadas para cobrir o rombo de US$ 5 bilhões.
Quando os gerentes tentam localizar algumas das operações que constam da listagem em poder do Banco Central, aparece na tela do computador a mensagem "indisponível para consulta".
O bloqueio das informações confirma a suspeita de que as operações só podiam ser acessadas por um código secreto, o qual só a alta cúpula do Nacional conhecia.
A revelação, pela Folha, de que existem na lista dos devedores dezenas de empresas com endereços de agências do banco deixou os gerentes perplexos.
Um deles, a pedido da reportagem, digitou no computador o nome de duas empresas que figuram na lista com o endereço de sua agência.
O computador informou que as contas continuavam ativas, mas ao acionar o terminal de negócios, para obter o saldo devedor, o acesso à informação estava bloqueado.
Surpresa
Os gerentes estão surpresos com a descoberta da fraude e, mais ainda, com o envolvimento involuntário das agências.
O fenômeno de empréstimos fictícios ligados a endereços das próprias agências do Nacional foi mais detectado na zona norte do Rio e, em escala ainda maior, em Duque de Caxias. Até agências da zona sul da cidade foram envolvidas.
Os gerentes, que pediram para não ser identificados, disseram que nunca souberam dessas operações e que se tivessem clientes inadimplentes com dívidas desta ordem (cerca de R$ 8 milhões cada um) teriam perdido seus empregos.
O perfil das empresas que aparecem na listagem em poder do Banco Central mostra que os créditos jamais serão recuperados.
Pelo disquete, o Nacional tinha R$ 35,8 milhões a receber de uma empresa chamada Sigla Alumínio e Ferro Ltda., com sede na rua Costa Ferreira, 77 , no bairro da Gamboa, no centro do Rio.
A reportagem da Folha esteve no endereço e constatou que lá funciona, há oito anos, uma pequena empresa chamada CMN Indústria e Comércio de Gesso e que antes dela funcionou uma oficina.
Mauch
O diretor de Fiscalização do Banco Central, Cláudio Mauch, disse ontem à Folha que a utilização de clientes fantasmas no esquema montado no Nacional para maquiar balanços do banco demonstra o sentimento de impunidade dos responsáveis.
"Eles pensaram que nunca seriam descobertos", disse Mauch.

Colaborou a Sucursal de Brasília

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