São Paulo, terça-feira, 5 de março de 1996
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FHC critica Sarney e elogia Tancredo

WILLIAM FRANÇA
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE

O presidente Fernando Henrique Cardoso fez ontem críticas, de forma indireta, ao presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB-AP), durante discurso para 22 governadores e centenas de educadores, em Minas Gerais.
As referências a Sarney foram feitas em três ocasiões. Na mais explícita delas, FHC lembrou o seu discurso de posse, quando afirmou que "não teria temor de colocar a mão em vespeiros".
Sempre que se referia a essa frase, em outras solenidades, Fernando Henrique dizia que, embora não tenha medo, "algumas abelhas às vezes o picam".
Ontem, FHC trocou de inseto. "Às vezes são até marimbondos", disse o presidente, fazendo uma pausa e olhando para o local onde estava a imprensa. O senador José Sarney é o autor do livro "Marimbondos de Fogo".
Depois, o presidente emendou: "Mas nós sabíamos que seria assim, e nunca nos restringiu o temor das dificuldades".
Tancredo
A outra referência a Sarney foi logo no início do discurso, quando Fernando Henrique disse que, fugindo ao seu estilo, faria homenagens àqueles que contribuíram para a educação no país. Entre eles, citou o presidente eleito Tancredo Neves, morto em 1985.
"Se tivesse tido a chance (de tomar posse) ele teria enveredado pela educação", afirmou o presidente. Sarney era o vice de Tancredo e, ao tomar posse no cargo, acabou por modificar o programa de governo do presidente eleito.
A terceira crítica foi quanto à política econômica. FHC afirmou que não hesita em tomar as medidas que julgar necessárias para dar continuidade ao Plano Real. Nesse momento, disse que não houve quem tivesse enfrentado as crises para garantir a continuidade do combate à inflação -numa referência indireta ao Plano Cruzado, que durou apenas dez meses.
"Quem enfrentou, depois de ter controlado a inflação, a necessidade de ir mais fundo para criar condições para que o futuro também seja mais próspero?", questionou o presidente.
Decência
Fernando Henrique disse que se orgulhava de no seu governo quase todos seus auxiliares diretos serem professores, "gente que conhece a realidade da vida e que sabe que, para encarar um aluno com tranquilidade, tem de ser decente".
Ressalvando que não era uma exclusividade do seu governo "ter gente simples e honesta" (em uma referência ao governo de seu antecessor, Itamar Franco, elogiado no início do discurso), FHC afirmou que este "é um governo decente, composto por gente honesta, apoiada por gente decente".
Segundo o presidente, essa característica "muda muito o Brasil, para fazer um país sério para o povo brasileiro".
No discurso, FHC disse ainda que no "Novo Brasil" não há lugares para gritos ou apitos (em referência a manifestantes que, do lado de fora do Minascentro, apitavam em protesto à política do governo), e que não é o tom da voz, mas sim "a cabeça, o coração, a firmeza e a seriedade" que mudam o país.
"Por isso há uma instrução dada aos que trabalham comigo: digam as coisas, debatam, argumentem, lutem. Não se encolham ao primeiro grito, que não significa a razão", disse o presidente. "No mundo de hoje, ou se tem argumento, ou o grito se perde."
FHC disse ainda que não pode pensar apenas nos que vão gritar à sua porta. "Tenho que pensar na maioria do Brasil, porque qualquer decisão que o governo toma vai ter repercussão (...) que tem de ser medida."

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