São Paulo, terça-feira, 5 de março de 1996
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Reeleição prejudica a relação

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As cutucadas que Fernando Henrique Cardoso deu ontem em José Sarney tem várias razões menores e uma principal. A principal é a reeleição.
FHC quer a reeleição. Sarney é contra e preside o Senado, o local onde a emenda sobre reeleição desembocará, cedo ou tarde.
Para FHC e seus aliados mais próximos, a interpretação é que sairia "mais barato", literalmente, tentar a aprovação da emenda da reeleição neste ano.
Como a eleição presidencial está longe, isso permitiria aos tucanos negociarem apoios mais concretos e menos ideológicos hoje.
O governo federal sempre tem cargos e poder para distribuir. Isso contentaria muitos deputados e senadores que poderiam, eventualmente, votar já na reeleição.
No ano que vem, as discussões seriam, na opinião de tucanos próximos a FHC, mais voltadas para a futura aliança da reeleição.
Quer dizer, a partir do ano que vem, FHC teria de oferecer cargos e uma possível divisão de poder para a eleição presidencial de 98.
Ocorre que sem o apoio de Sarney fica praticamente impossível fazer a tese da reeleição passar neste ano. Em 97, Sarney deixa a presidência do Senado.
Em conversas reservadas, Sarney deixa mais do que claro ser contra a tese. "Sempre defendi mandatos mais longos e sem reeleição."
Quando presidente, Sarney queria seis anos de mandato. Conseguiu cinco. Hoje, ainda defende seis anos. "É melhor para a nossa cultura política", defende.
Nas questões menores, entretanto, FHC tem dado uma lavada em Sarney. Foi assim no caso do Fundo de Estabilização Fiscal (FEF), que Sarney pretendia inconstitucional -e acabou aprovado na semana passada.
A maior derrota imposta pelo Planalto a Sarney foi em relação a Lei de Patentes. Sarney queria, de todas as formas, discutir mais o assunto -há cinco tramitando no Congresso.
Numa queda de braço, foi derrotado pelos senadores governistas. A lei entrou no regime de urgência, contra a vontade de Sarney, e foi aprovada na semana passada.
A vitória conquistada pelo presidente nas patentes pode ter animado o Planalto a tentar a sorte em outros temas. Esse pode ser um dos significados das alfinetadas de ontem de FHC.

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