São Paulo, terça-feira, 5 de março de 1996
Texto Anterior | Índice

Hidrelétrica alagará 10% de reserva

FHC envia mensagem ao Congresso

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso enviou mensagem ao Congresso pedindo autorização para a estatal de energia Furnas inundar 10% (3.163 hectares) da área indígena dos avá-canoeiros (GO), a 230 km de Brasília.
É o primeiro pedido oficial do governo para construir hidrelétrica em área indígena após a promulgação da Constituição, que submeteu ao Congresso a decisão final.
A inundação será causada pelo fechamento das comportas da hidrelétrica de Serra da Mesa (GO), prevista para setembro. Em maio de 1997, devem começar a funcionar as turbinas da hidrelétrica.
O pedido conta com um estudo favorável do Instituto de Pesquisas Antropológicas do Rio de Janeiro.
Os quatro grupos isolados dos avá-canoeiros, ainda sem contato com a Funai (Fundação Nacional do Índio), não vivem na área a ser inundada. "O fundamental é que Furnas está comprometida com a reunificação do povo avá-canoeiro", diz Mércio Gomes, diretor do instituto e favorável à medida.
Segundo ele, na área há apenas seis índios, dos quais só dois irmãos -um homem e uma mulher- estão aptos a gerar filhos.
Em convênio com a Funai, Furnas se compromete a dar assistência aos índios, proteger suas terras contra invasores e criar programas ambientais na área.
Lei complementar
Segundo exposição de motivos do ministro Raimundo Brito (Minas e Energia), o pedido presidencial visa a superar parecer do Ministério Público Federal, que considerou irregular a exploração hidráulica na área indígena.
O deputado Luciano Pizzatto (PFL-PR), relator do pedido, disse que, em princípio, seria necessária lei complementar para a autorização, como prevê a Constituição.
Mas ele admite a possibilidade de alternativas para atender ao pedido presidencial, a exemplo do que ocorreu no final de 1995 na área indígena do Médio Rio Negro (AM).
Ali, a Aeronáutica fez acordo com os índios para viabilizar uma hidrelétrica para o Sistema de Vigilância da Amazônia. Os índios renunciaram a 40 dos 2 milhões de hectares de suas terras em troca de assistência médica e energia.

Texto Anterior: Esquerda tenta "canonizar" Diolinda no Dia da Mulher
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.