São Paulo, terça-feira, 5 de março de 1996
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O Econômico quer álibi

LUÍS NASSIF

O caso Nacional tem ajudado a jogar para segundo plano o caso Econômico.
É importante que um prejuízo já realizado -o Nacional- não sirva de álibi para ampliar o prejuízo em relação ao Econômico.
No momento, há forte pressão da bancada baiana, visando ampliar as vantagens a serem oferecidas ao banco Excel, para assumir os despojos do Econômico. Pode-se entender por aí parte do tiroteio sofrido pelo presidente do BC, Gustavo Loyolla.
Essas vantagens seriam necessárias para que o Excel atendesse o compromisso firmado com a bancada baiana, de manter intacta a rede de agências do banco.
No decorrer das negociações com o BC, o Excel efetuou análises de sensibilidade (que permitem aferir o peso de diversos fatores sobre o resultado final do banco).
As análises indicaram como maior fator de custos as despesas administrativas do banco -justamente por conta da impossibilidade de reduzir a rede de agências-, seguido pelo depósito compulsório e pelas linhas de capital de giro necessárias para reestabelecer a liquidez e reestruturar o banco.
Para obter esse milagre financeiro, de tornar o banco viável sem mexer na estrutura de agências, o Excel fez exigências que não foram consideradas razoáveis pelo BC.
A principal delas contemplava simultaneamente o perdão do banco de efetuar recolhimentos ao compulsório (porcentagem dos depósitos que, por lei, os bancos são obrigados a recolher ao BC) e o BC continuar bancando por um bom tempo as despesas administrativas do Econômico.
Com a negativa do BC em aceitar a proposta, o Excel decidiu apresentar uma proposta mista pelo qual seria perdoado do compulsório por um ano e assumiria de imediato dois terços das despesas administrativas do Econômico.
Em contrapartida, solicitava financiamento adicional de R$ 1,7 bilhão, com dez anos de prazo e cinco de carência para juros e principal.
É por trás desses números que se entendem os diversos recados do senador Antônio Carlos Magalhães, de endurecer no caso Sivam, ou de jogar na sinuca o presidente do BC.
Vendendo o bom
Há uma confusão reiterada no caso Nacional, que consiste em acusar o BC de vender a parte boa do banco e ficar com a parte podre.
Há duas maneiras de vender uma empresa em dificuldades. A primeira é vendê-la integralmente. O comprador vai calcular a parte boa, descontar o que considera como parte podre, e pagar a diferença.
A segunda maneira consiste em separar a parte boa, vendê-la e, com os recursos amealhados e sanear a parte má.
Em qualquer operação atual de engenharia financeira, envolvendo bancos de investimento, a segunda alternativa é a mais eficiente.
Em geral, a dificuldade em estimar o valor da banda podre faz com que os compradores reduzam o preço que pretendem pagar pelo negócio, pelo receio de encontrar bombas de efeito retardado no negócio.
Vendendo apenas a parte boa, cessa esse fator de insegurança, e o preço se valoriza automaticamente. A soma final acaba sendo muito mais vantajosa para o vendedor.
Sociedade Rural
A eleição de Luiz Suplicy Haffers para a presidência da Sociedade Rural Brasileira é surpreendente.
Haffers -que tomou posse ontem- é há muito tempo um defensor incondicional de uma política agrícola que reduza cada vez mais o papel do governo, e privilegie a busca da eficiência e dos modernos mecanismos de mercado.

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