São Paulo, terça-feira, 5 de março de 1996
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Grupo canadense se exibe em Hong Kong

RICARDO FERNANDES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE HONG KONG

Duas pequenas óperas fazem parte do programa duplo dirigido por Robert Lepage com a Canadian Opera Company, apresentadas nos dias 1 e 2 de março no maior centro cultural de Hong Kong. As três récitas, em um teatro de 2.300 lugares, estavam lotadas.
A primeira parte do programa, "Bluebeard's Castle", composto para duas vozes por Bela Bartok em 1911, conta a história do legendário Barba Azul e de sua última mulher.
Toda a ação está restrita à cela de um castelo, criada por dois muros que cortam o palco diagonalmente. Uma delas mostra sete portas de variados tamanhos, e as luzes de todo o espetáculo saem de suas fechaduras.
Por insistência da mulher, Barba Azul vai oferecendo as chaves das portas, que vão se abrindo e, com efeitos elaborados de iluminação, revelando os segredos do assassino e os motivos de seus crimes.
Quando a sétima porta se abre, a mulher compreende enfim ser ela a oitava e última vítima. Acompanhada de outras das três ex-mulheres que vêm buscá-la, desaparece na escuridão.
No chão, amarrada em uma camisa-de-força, uma mulher delira, falando sozinha sobre a espera de seu amante. Após a descoberta de seu cádaver, reconstitui-se o atonalismo de Schoenberg e a forma como ela mesma o matou.
Os efeitos especiais são muitos, desde luas que atravessam o palco até pessoas e objetos circulando perpendicularmente pelo cenário.
Uma grande moldura de pequenos quadrados dourados ocupa toda a frente do palco em ambas as montagens.
A música do início do século e as imagens, referências explícitas às obras de artistas plásticos como Klimt, Munch e Magritte, e as histórias, com seus crimes, obsessões e tentavas de explicações sobre a alma humana, se referem ao início do século e sua descoberta do inconsciente pelas teorias de Freud.
A encenação, além dos efeitos especiais e referências históricas, consegue pela interpretação dos cantores e do claustrofóbico espaço cênico criar um clima de intenso intimismo, algo difícil de ser alcançado ao encenar óperas e um dos motivos do prêmio alcançado em 1993 no festival de Edinburgh (Inglaterra) e do seu sucesso nestes três anos em Nova York, Toronto, Melbourne, Londres e agora em Hong Kong.
Após este trabalho, sua estréia na direção de óperas, Robert Lepage já dirigiu outra ópera em Tóquio em 1995, baseada em "A Tempestade", de Shakespeare.
Seu último trabalho, recém-acabado, foi "Sonho de uma Noite de verão", também de Shakespeare, com o "Royal Theatre of London".
Lepage se prepara para, em maio próximo, voltar aos palcos como ator, em um espetáculo co-produzido pelo "Kunsten Festival des Arts" da Bélgica.

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