São Paulo, terça-feira, 5 de março de 1996
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Duas artistas perseguem a clareza

FERNANDA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

Duas exposições de duas artistas da chamada "Geração 80" abrem hoje em São Paulo. Ana Maria Tavares mostra suas esculturas na galeria Milan e Leda Catunda, suas pinturas na Camargo Vilaça.
As duas vêem trabalhos apresentados em Bienais anteriormente (Ana com "Alguns Pássaros", de 1991, e Leda com "Mosca", de 1994) como pontos de partida para as obras que mostram agora.
Tanto para Ana Maria como para Leda, a preocupação em trazer o "novo" foi superada pela vontade de tornar mais claro o próprio trabalho. "Achei que tinha que ter um discurso mais prolixo. Essa exposição deixa mais claro o trabalho anterior", diz Leda.
Nas seis obras expostas, Ana Maria Tavares explora "o limite entre a escultura e o design". "Corrimão", "Cabine", "Guarda-corpo" e "Alça" são esculturas que poderiam estar em qualquer estação de trem ou metrô funcionando como o que são os seus nomes.
Já "Escorredor", que seria a mais óbvia referência a um objeto utilitário, é a menos literal e a mais metafórica. Não funciona como escorredor, é um "objeto incompetente", como diz a artista.
"Rotatória", colocada na segunda sala da exposição, funciona como tal. Dali o visitante volta para rever o que quiser.
"As esculturas têm um desejo de ser útil, funcionam como amparo para o corpo", diz Ana. O aço inox das obras e a luz fria instalada ajudam a criar a atmosfera de impessoalidade buscada pela artista. As esculturas são inspiradas nos "lugares de passagem" ou "de espera", como aeroportos, estações, grandes halls etc.
Leda Catunda expõe nove pinturas ou "objetos moles", como prefere chamar: "Existe uma convenção de chamar de pintura tudo o que está na parede. Mas meus trabalhos são tão orgânicos e às vezes têm tanto volume..."
Três pinturas formam a série "Gotas", produzida este ano a partir das asas da "Mosca". "Achei que postas no chassis, elas ficam mais gráficas", diz. De fato, são trabalhos que privilegiam menos o volume e as sobreposições (ainda que não deixem de estar ali) sempre presentes em suas pinturas.
"Sete Véus", logo na entrada, é uma sobreposição de tecidos, texturas e pinturas, que se deixam entrever só pela beirada, "como uma anágua". "Capa" e "Línguas Laranjas" também escondem e revelam texturas e volumes.

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