São Paulo, domingo, 17 de março de 1996 |
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Por fora do Nacional
LUÍS NASSIF Na semana passada, respeitado colunista -que recentemente questionou a coluna, por ter defendido que a venda das partes boas do Nacional era o método mais correto- voltou a insistir no caráter lesivo da operação de venda do Banco Nacional, e levantou dúvidas sobre a probidade das partes envolvidas.Deixou de questionar a metodologia de venda -aparentemente aceitando-a. Acabou centrando fogo em dois pontos efetivamente relevantes: o custo da operação para o Banco Central e o preço de compra pelo Unibanco. Em relação ao custo para o BC -lembra ele-, o banco emprestou recursos para que o Nacional adquirisse Títulos da Dívida Agrária (TDAs) no mercado, por menos de 40% de seu valor -e os oferecesse como garantia de 100% do valor da dívida. Logo o devedor foi beneficiado com redução de 60% no valor de sua dívida. Não é óbvio? Não. Suponha que os devedores dispusessem de bens no valor de apenas 10 para garantir a dívida (que deveria ser a proporção entre os bens pessoais dos Magalhães Pinto e o rombo do Nacional). Se o valor final da dívida for de 100 ou de 40, tanto faz. Como eles têm apenas 10 de garantia, vão entregar tudo o que têm, e, consequentemente, jamais irão conseguir pagar a dívida remanescente -30 ou 90, pouco importa. Contabilidade Então, por que o BC permitiu essa operação? Simplesmente para fazer uma jogada contábil, e transferir para o Tesouro parte dos seus (do BC) prejuízos. No vencimento da operação, o Tesouro será obrigado a aceitar por 100 (o valor de face dos TDAs), títulos que foram comprados por 40 no mercado. Com isso, o prejuízo a ser bancado pelo BC reduz-se para 40 (o que ele emprestou para os ex-controladores adquirirem os TDAs), com os 60 restantes sendo bancados pelo Tesouro. Pode-se questionar administrativamente se o BC agiu corretamente ou não. Mas, à luz dos dados apresentados, será muito difícil concluir que os Magalhães Pinto foram beneficiados pela operação, simplesmente porque, se a Justiça quiser, seu patrimônio será reduzido a zero. Caro e barato O segundo ponto do questionamento é quanto ao preço pago pelo Unibanco pela parte boa do Nacional. O colunista lança dúvidas sobre a operação, baseado no seguinte raciocínio: 1) O mercado (quem do mercado?) considerou que o preço pago pelo Unibanco foi barato. 2) Se foi barato -conclui ele-, nada impede que tenha havido um acerto por fora entre os compradores (Unibanco) e os ex-controladores do Nacional. Aí a discussão fica complicada. Nada impede que o Unibanco tenha pago por fora, como também nada impede que o Unibanco não tenha pago por fora. É mais racional trabalhar evidências. Em qualquer negócio que se faça, preço é função da pressa -principalmente em negócios com pouca liquidez. E um preço é alto ou baixo em relação a outra proposta que sirva de parâmetro. Quando explodiu o caso, quantos bancos estavam dispostos a adquirir o espólio do Nacional na pressa exigida pela operação? Pelas informações disponíveis, só o Unibanco. Se não apareceu nenhum outro candidato a comprador, como considerar que o negócio em si foi caro? Uma forma de saber se foi caro ou não consistiria em pegar o patrimônio líquido das empresas adquiridas e descontar a parcela de papéis podres que elas carregavam. Mas essa conta ainda não foi feita. Por fora Decidida a venda da parte boa do Nacional, o procedimento adotado foi, primeiro, os Magalhães Pinto assinarem documento transferindo para o BC a totalidade das ações no banco e na seguradora. O Unibanco negociou diretamente com o proprietário provisório do Nacional -o BC-, não com os Magalhães Pinto. Então por que a necessidade do "por fora" para o Nacional, sugerida pelo colunista? Só se fosse por solidariedade dos banqueiros do Unibanco para com os do Nacional -aí sim, conferindo um caráter extraordinariamente inédito à operação. Decorrências Não se trata apenas de gosto pela polêmica. Corrupção ou incompetência (e a coluna cansou de denunciar a incompetência do BC no episódio), o prejuízo foi de bom tamanho para o país. Mas há diferença fundamental entre os dois enfoques. Corrupção é caso de CPI. Incompetência, não. Ambos exigem, no entanto, medidas urgentes das autoridades, para reformulações estruturais no BC e nas suas relações com o sistema financeiro. Texto Anterior: Falta de consenso sobre teles é geral Próximo Texto: Costa alerta para princípios éticos Índice |
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