São Paulo, domingo, 17 de março de 1996
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Nada é mais deprimente

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Triste-ê-za, por favor vá embo-ó-ra...
Existe alguma coisa mais deprimente do que Carnaval fora de hora, em plena São Paulo e ainda por cima a 130 paus por cabeça?
O Carnasampa, que toma conta da avenida Sumaré e adjacências neste domingo, só pode ter sido motivado por despeito em relação à festa da Fórmula Indy, que acontece no Rio de Janeiro.
Não?
Quiçá, então, algum incauto tenha confundido "micareta" com "picareta" e não achou nada melhor do que reunir todos os escroques da cidade para uma grande festa de confraternização no meio da rua?
Não?
Pois então me diga, ó paulistano que se orgulha de viver no túmulo do samba.
O que leva milhares de pobres coitados a desperdiçar um fim-de-semana de lazer?
A gastar uma nota preta para comprar a mortalha?
A enfrentar aquele empurra-empurrra de lotação de ônibus em que se traduz o Carnaval de rua e a ser torturado pela repetitiva música axé durante dois dias consecutivos?
Já sei!
O Carnasampa só pode ser uma maneira paulistana de exaltar o espírito da Quaresma. Jesus Cristo sofreu e São Paulo também tem de fazer sua parte pela redenção da humanidade.
Sim, pois ser obrigado a passar horas a fio segurando o tchan -próprio e alheio- e dançando aquela perniciosa musiqueta "Na Boquinha da Garrafa" nada mais é do que uma espécie de penitência.
Note que a Via Crucis do Carnasampa terá 4 quilômetros de extensão. Percorrer o trajeto com os dedinhos indicadores apontando para o céu e requebrando as cadeiras é tarefa exclusiva para seres que buscam a beatificação.
Não é à toa que o hino desses abnegados venha a ser a música "Xô, Satanás".

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