São Paulo, domingo, 17 de março de 1996 |
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"Regime garante estabilidade e mudança"
OTÁVIO DIAS
* Folha - Por que a monarquia é importante para o Reino Unido? Fawsley - Nossa história é intimamente ligada à monarquia, nos bons e nos maus momentos. Sem ela, nosso passado é incompreensível. A rainha Vitória, por exemplo, era o símbolo do poder do Império Britânico no seu apogeu. O Reino Unido não tem uma Constituição escrita e, se a monarquia fosse abolida, enfrentaríamos problemas. Quem seria o chefe de Estado, como seria a relação entre o presidente e o premiê? Em terceiro lugar, todas as nações necessitam de estabilidade e de mudança. A monarquia provê o elemento de estabilidade, o Parlamento é o veículo para a mudança. Por fim, a monarquia é também o símbolo da unidade do país. Por maior divisão política que exista, ninguém está contra o país porque todos se identificam com a rainha. Folha - Todos se unem torno da rainha. Mas as pessoas não estão unidas em torno de Charles. Fawsley - Sim, mas esse é um problema temporário, que será resolvido depois que esse tango matrimonial se esvanecer no passado. Folha - O fato de o Reino Unido não ter uma Constituição escrita é uma das críticas ao atual sistema político. Qual sua opinião? Fawsley - No Reino Unido, o princípio constitucional básico é a supremacia do Parlamento. O Parlamento pode mudar tudo, e nenhum Parlamento pode limitar os poderes de seu sucessor. Não vejo como poderíamos ter uma Constituição escrita. O que temos são instituições e costumes que são preservados. Do contrário, viveríamos em permanente revolução. Folha - Há a proposta de um plebiscito sobre o futuro da monarquia. Quem proporia o plebiscito? Fawsley - Ele teria de ser proposto pelo premiê. Em seguida, seria necessário criar uma legislação, que teria de ser aprovada pelas duas casas do Parlamento. Por fim, a rainha teria de dar seu consentimento, o que ela certamente faria. Folha - A monarquia deve passar por mudanças para sobreviver e se preparar para o próximo século? Fawsley - A rainha já promoveu mudanças profundas nas finanças. Ela reduziu o número de membros cujas despesas são pagas pelo Tesouro. Hoje, além da rainha, apenas o marido e a rainha-mãe recebem recursos do Estado. A rainha recebe cerca de USŸ 12,6 milhões anuais para cobrir as despesas. Desde 1993, a rainha voluntariamente decidiu pagar imposto sobre seus rendimentos particulares. Concordo que a monarquia deve ser simplificada. Eles ainda têm muitas casas e empregados. Mas sou contra a idéia de se abrir mão de todo esplendor. Uma monarquia mixa não faz sentido. Folha - Quais os poderes do monarca hoje? Eles devem diminuir? Fawsley - Não, são poderes residuais importantes em momentos de crise. Se numa eleição nenhum partido tiver uma clara vitória, a rainha serve de comunicação entre as forças políticas. Se houver uma crise na Irlanda do Norte, a rainha cumpre papel de mediadora. (OD) Texto Anterior: Monarquia vai sobreviver, diz estudioso Próximo Texto: Grupo prega a instauração da república Índice |
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