São Paulo, quinta-feira, 21 de março de 1996
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Família quer divulgar o acervo

DA ENVIADA ESPECIAL AO RIO

"O que adianta doar para uma instituição para ficar num arquivo morto?", diz José Luiz Condé, 56, um dos filhos de João Condé. Segundo ele, a família gostaria de ver os arquivos do pai divulgados.
"A melhor maneira de esconder um documento é colocá-lo num arquivo", diz Antonio Fernando De Franceschi, 52, diretor do Instituto Moreira Salles, que em sua sede em São Paulo instalou uma sala especial para os arquivos literários.
O Instituto Moreira Salles tem os arquivos de Otto Lara Resende e de Ana Cristina César, entre outros.
Segundo Franceschi, documentos como os do arquivo de João Condé "têm importância fundamental para os estudos ligados à genética do texto."
"A maioria dos arquivos estão em instituições públicas que costumam sofrer com falta de verbas", diz Franceschi. "É lamentável que não se tenha no Brasil um estímulo à atividade arquivística, porque este é um país que precisa cuidar de sua memória."
Segundo Franceschi, "é enorme a diferença entre simplesmente recepcionar os arquivos e pôr aquilo a serviço dos estudos literários".
A Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro já há alguns anos mostra interesse pelos arquivos de Condé. Quando o colecionador ainda estava vivo, mandou uma bibliotecária para ajudá-lo na catalogação.
"Vamos esperar passar mais tempo. As instituições são mutáveis. Seria interessante que esse material fosse divulgado, que se fizesse um CD-ROM, publicassem livros", disse João Carlos Condé, 43, outro filho do colecionador.
Segundo o presidente da Biblioteca Nacional, Affonso Romano de Sant'Anna, 58, "é grande" o interesse de sua instituição pelos arquivos.
A Biblioteca contratou recentemente 500 funcionários para realizar um mutirão e organizar seus arquivos.
Entre caixotes que nunca haviam sido abertos, foram descobertas cartas de Di Cavalcanti a sua amante, gravuras de Piranesi, artista italiano do século 16, mapas de jesuítas do século 17, entre dezenas de outros documentos importantes.
"Recebemos doações quase diárias", disse Lícia Carvalho Medeiros, 48, assessora da presidência da Biblioteca. Entre as últimas doações que a instituição deve receber em breve estão documentos de Tom Jobim (partituras, cartas etc.) e a biblioteca particular de cerca de 3.000 volumes do embaixador Macedo Soares.

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