São Paulo, sexta-feira, 22 de março de 1996 |
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Para bispos, igreja não deve ser 'passiva'
FERNANDO MOLICA
Cópia do documento obtida pela Folha revela a preocupação dos bispos em incentivar um trabalho de campo que faça frente ao "impacto da modernidade" e ao avanço das "seitas" (palavra utilizada pela hierarquia católica para definir as igrejas evangélicas pentecostais e as religiões de origem oriental). A assembléia da entidade ocorrerá na segunda quinzena de abril em Itaici, distrito de Indaiatuba (110 km a noroeste de São Paulo). O tema principal da assembléia é o projeto de evangelização para preparação do "jubileu do ano 2000" e o início do terceiro milênio.' Individualismo Segundo o documento, intitulado "Rumo ao novo milênio", o processo de urbanização do país fez com que a religião cultivada nas áreas rurais perdesse sua base social, "tipicamente familiar e comunitária". Isto, afirmam os bispos, fez com que o processo religioso tendesse a adquirir características de um comportamento "individual e privatizado". O texto afirma que o enfraquecimento da atuação da igreja católica nas periferias favoreceu o crescimento de "comunidades evangélicas pentecostais", como a Assembléia de Deus e, mais recentemente, de grupos "que prometem a felicidade imediata, exigindo principalmente contribuições em dinheiro". Segundo a CNBB, apesar do combate ao culto dos santos, estes grupos pentecostais mantiveram características do chamado "catolicismo popular", como a ênfase no sagrado, na oposição entre bem e mal e na presença de Deus em curas e em exorcismos. A recuperação de aspectos deste catolicismo popular é um dos desafios propostos aos bispos. "É hora de transformar as estruturas de serviço para ir ao encontro dos 80% de católicos submetidos ao impacto da modernidade, por um lado, e do assédio das seitas por outro", afirma o documento. Segundo o texto, isto vai exigir que a igreja olhe menos para dentro e seja mais voltada para o mundo. Atuação social O trabalho procura relacionar a atividade "missionária", de conversão e evangelização, com a atuação social que marcou, nas últimas décadas, a atuação da igreja católica no Brasil. O texto reafirma a importância da "opção preferencial pelos pobres" e das discussões em torno das políticas sociais. Assim, a CNBB propõe a manutenção e o fortalecimento das pastorais sociais e de iniciativas como a do Grito dos Excluídos -conjunto de manifestações realizadas no dia da Independência. A leitura do documento revela que as próximas três campanhas da fraternidade seguirão a linha "social" que vem sendo adotada pela CNBB. Em agosto do ano passado, durante reunião da entidade, o arcebispo do Rio, d. Eugenio Sales, sugeriu que as campanhas da fraternidade entre 1998 e 2000 estivessem relacionadas a temas mais religiosos, ligados às comemorações do segundo milênio do nascimento de Jesus Cristo. A proposta de D. Eugenio foi derrotada. Texto Anterior: O voto dos senadores Próximo Texto: TRE-RJ não garante posse Índice |
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