São Paulo, sexta-feira, 22 de março de 1996
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Clint é poeta do tempo

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

O Oscar não faz justiça a "As Pontes de Madison". É verdade que Meryl Streep está em um grande momento. Mas "As Pontes" é muito mais do que ela.
No ano passado, o filme entrou em cartaz visto como "para mulheres" ou "para chorar". Agora volta. Vale conferir. A história gira em torno da descoberta (póstuma) dos papéis em que uma mulher (Streep) dá conta a seus dois filhos da grande paixão de sua vida.
E a paixão não é pelo pai. Esta mulher, italiana, vem para os EUA após a Segunda Guerra Mundial. Ao se materializar, seu sonho americano converte-se numa fazendola interiorana. É ali que um dia surge o homem (Clint) com quem viverá intensa paixão clandestina.
A revista "Cahiers du Cinéma" vê "As Pontes" como uma lição de além-túmulo da libertária geração dos anos 60 aos jovens dos 90. Boa. A isso acrescente-se que Clint, não é de hoje, tem sido um poeta do além-túmulo. Exemplo: toda a ação do pistoleiro de "Os Imperdoáveis" é inspirada pela memória da mulher.
Clint não concilia os dois tempos. Passado e o presente são instâncias que só se tocam de maneira demoníaca (como em "O Estranho sem Nome") ou dolorosa ("As Pontes").
A irrupção do passado no presente atesta a irredutibilidade de um tempo ao outro. É terrível, por que o tempo de Clint é o das coisas que se deterioram -sejam elas pontes, amores ou vidas. Dessa perda ele extrai, aqui, um grande e poético filme.
(IA)

Filme: As Pontes de Madison
Produção: EUA, 1995
Direção: Clint Eastwood
Com: Meryl Streep, Clint Eastwood
Onde: cines Olido 3, Estação Lumière 2 e circuito Quando: a partir de hoje

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