São Paulo, sexta-feira, 22 de março de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
"Os 12 Macacos" de Gillian passeia pelo território da insanidade
MARCELO REZENDE
Suas grandes fixações infantis, ilustradas em "Brasil" ou "O Pescador de Ilusões", são a destruição e a tecnologia, esta grande produtora da fantasia. Conceitos que, unidos, dão forma a algo tão caro a seu imaginário: a loucura. "Os 12 Macacos" se situa então nesse território, a insanidade. Em um futuro próximo os animais dominarão o planeta, e os poucos sobreviventes da raça humana serão obrigados a viver, em um Estado policial, nos subterrâneos. A grande causa do desastre, como é comum nesse tipo de ficção, foi o próprio homem. Um vírus criado em laboratório terminou por levar a humanidade à essa condição, transformando o ar da Terra respirável apenas para os animais. Mas se o homem vive, paradoxalmente, como um rato, ainda lhe resta a ciência. Assim, decidem enviar um "voluntário" (o ator Bruce Willis, em uma interpretação soberba) para o passado a fim de tentar descobrir como toda a calamidade começou. Estamos então, até esse momento, na zona dos grandes clichês da ficção científica. Gillian passa a retrabalhar as regras do gênero quando volta no tempo, e seu personagem descobre que ninguém acredita em sua história. Assim, esse homem sem época que tem pesadelos com seu passado e futuro -algo que é decisivo para a trama- termina em um hospício, incapaz de realizar sua missão. Até o momento que o jogo se inverte. Baseado no curta "La Jetée", do diretor Chris Marker, realizado na década de 60, Gillian conta em duas horas e dez minutos um trabalho que tinha, originalmente, 25 minutos. No filme de Marker não há um vírus como vilão. Em seus anos não havia a necessidade dessa metáfora porque o perigo era a energia nuclear. Um filme contido, com a história narrada com fotos e uma voz em off. Gillian coloca em lugar dessa contenção os efeitos especiais que, pela primeira vez, parecem estar em seu domínio. Efeitos que nunca atrapalham o desenvolvimento do filme. Não excedem ou faltam, mas apenas contribuem para sua idéia de um cinema que é ao memo tempo pirotecnia visual e romance de idéias. Se entendermos as últimas décadas de Hollywood como o momento da criação do "campeão de bilheterias" como consequência direta de efeitos especiais, Gillian apresenta em "Os 12 Macacos" sua forma pessoal de transgressão. E parece, nesse que é seu melhor filme, estar chegando a algum lugar. Filme: Os 12 Macacos Direção: Terry Gillian Com: Bruce Willis, Madeleine Stowe e Brad Pitt Onde: Ipiranga, West Plaza, Belas Artes, Center Iguatemi e circuito Texto Anterior: Grupo goiano vence festival de dança; "O Guarani" tem encenação ao ar livre Próximo Texto: Clint é poeta do tempo Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |