São Paulo, sexta-feira, 22 de março de 1996
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Descobriu tudo

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Consta que se abriram garrafas de champanhe ontem, nos meios financeiros de São Paulo (talvez do resto do Brasil também). Pode ser mera figura de linguagem, mas é inegável que o sepultamento da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do sistema financeiro causou alívio nos chamados mercados, os demiurgos dos novos tempos.
Aqui do meu canto, figura pré-antiga, sempre desconfio quando os mercados festejam. Parece o reverso da história, politicamente incorreta, da mulher do malando. Posso não saber direito porque desconfio, mas eles saber perfeitamente porque festejam.
Suponho que o governo também estará festejando, ainda mais que levou igualmente a reforma da Previdência.
Mas, se houvesse um mínimo de memória na cabeça do presidente, deveria estar é lastimando-se. Pode até dar certo como presidente, mas já fracassou como sociólogo.
Na campanha eleitoral, deu uma longa entrevista a esta Folha na qual decretou o fim do fisiologismo. Bom, se o que aconteceu anteontem não é fisiologismo, então é preciso redefinir a palavra urgentemente.
Suponho que Giuseppe di Lampedusa, aquele que dizia que é preciso mudar algo para que tudo fique como está, não conheceu o Brasil. Mas dificilmente vai se achar país do mundo no qual se encaixe com mais perfeição essa avaliação, a um tempo tão cínica e tão reveladora.
Aqui, tudo parece mudar sempre. Ora é a "Nova República", ora é a "Reconstrução Nacional", ora é a "refundação" da República, esta de invenção de Fernando Henrique.
Mas, na prática, os usos e costumes continuam a ser os de sempre, lamentáveis como sempre. Afinal, FHC já havia descoberto, como disse no México, que no Congresso a aglutinação não se faz por princípios, mas por interesses. Parecia um lamento. Revelou-se uma conveniência.

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