São Paulo, sexta-feira, 22 de março de 1996 |
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Arroz para todos
CARLOS HEITOR CONY Rio de Janeiro - Nada melhor para a classe política do que um escândalo envolvendo o governo. Fica difícil entender como Fernando Collor foi tão desastrado durante a crise que o afastou da Presidência: por míseros milhões de dólares ele se recusou a compor com "os segmentos da sociedade", representados pelos líderes partidários. Deu no que deu: foi jogado na lata de lixo.Com a estabilização da moeda, os escândalos mudaram de patamar, são bilhões e não milhões de dólares. Dá para fazer uns 5.000 jardins da Dinda e ainda sobra troco. Os segmentos da sociedade estão aí, dando sopa para as composições. Note-se: não se trata de barganha, que ninguém é disso, nem governo nem classe política. Há partidos que precisam de ministérios (nem se sabe por que, pois ministro manda bulhufas). O Maranhão precisa de verbas, a Bahia exige tratamento preferencial para o caso do Econômico -enfim, os segmentos da sociedade têm seus problemas. Felizmente, surge um escândalo como o do Nacional. Acuado, o governo vai à luta com a sutileza habitual -aquela que faltou a Collor, que era um grosso. Todos se arrumam. Verbas, dotações, nomeações, os pleitos pendentes são relacionados e resolvidos. Como até o sociólogo FHC sabe, a política é dinâmica. Uma semana depois de resolvido um lote, surgem novos e urgentes pleitos dos segmentos sociais representados pelos partidos. Dois, três meses mais tarde, a conta está grande de novo. É necessário outro escândalo envolvendo o governo. Quanto maior for o escândalo, maior será o número de pleitos atendidos. Enquanto isso, um Clarimundo fica preso em casa. É o Jonas que os segmentos sociais atiraram às águas, como inútil, já cumpriu sua missão. Como as prisões estão superlotadas, ele será condenado a executar tarefas comunitárias. Ajudará o Betinho na distribuição de arroz aos necessitados. Texto Anterior: O Brasil grande de FHC Próximo Texto: Poder e briga Índice |
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