São Paulo, sábado, 23 de março de 1996
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Governo barganha e vence em comissão

SÔNIA MOSSRI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo obteve na Comissão Mista de Orçamento sua terceira vitória em menos de 24 horas. A operação custou a transferência de R$ 100 milhões de outras áreas do Orçamento para a cota que cabe aos parlamentares distribuir.
Depois de garantir anteontem a aprovação da emenda da Previdência e o fim da CPI, na madrugada de ontem conseguiu derrubar na Comissão do Orçamento dispositivo que limitava o bloqueio de verbas do Orçamento de 96.
A operação para aprovação do projeto orçamentário na comissão custou o repasse adicional de R$ 100 milhões para atender a emendas de parlamentares, basicamente construção e recuperação de rodovias federais.
Os parlamentares não se contentavam com os R$ 4 bilhões, do total de R$ 313 bilhões, fixados pelo relator-geral, deputado Iberê Ferreira (PFL-RN), para atender a emendas de deputados e senadores.
Para repartir os R$ 100 milhões adicionais entre os parlamentares, Iberê cortou R$ 28 milhões do serviço de informática do Ministério da Fazenda, R$ 50 milhões do Plano Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar e R$ 25 milhões da administração da dívida pública mobiliária.
A sessão da comissão que aprovou o Orçamento durou 12 horas e prolongou-se até as 5h30 de ontem. Resta ainda o exame pelo plenário do Congresso, o que deverá acontecer depois de 8 de abril.
Bloqueio
Os parlamentares disputavam verbas mesmo sabendo que a maior parte delas será bloqueada pelos ministérios do Planejamento e da Fazenda.
O vice-líder do governo na Câmara, Arnaldo Madeira, disse à Folha que o governo não terá condições de realizar um "cronograma rígido" de liberação de verbas em 96.
Segundo ele, o Ministério do Planejamento recomendou a derrubada do mecanismo que restringia o bloqueio e o remanejamento de verbas de uma dotação orçamentária para outra sem a autorização do Congresso.
Controle do déficit
Na prática, a equipe econômica não executa nem 50% das verbas previstas no Orçamento.
Ela usa o bloqueio de recursos como artifício para controlar o déficit público, porque não conseguiu equilibrar as contas, ou seja, prever despesas no mesmo volume da receita.
A distribuição de verbas entre parlamentares para aprovar o Orçamento já provoca movimento do PT e PDT para criar obstáculos para a votação no plenário.
O vice-líder do PT na Câmara, deputado Paulo Bernardo (PR), disse que tanto o relator-geral como o presidente da comissão tentaram esconder a distribuição de R$ 100 milhões para aprovar o Orçamento.
O líder do PDT na Câmara, deputado Miro Teixeira (RJ), ameaça obstruir a votação no plenário. Ele questiona os custos das obras do governo previstas no Orçamento.
Pressa
Calheiros e Iberê alegam que a distribuição de recursos na última hora faz parte da negociação política para aprovação do Orçamento.
Ambos têm pressa em aprovar o Orçamento por causa das liberações de verbas para prefeituras, que somente pode ser feita até 1º de julho, três meses antes das eleições municipais de outubro.

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