São Paulo, sábado, 23 de março de 1996
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FAZER A AMÉRICA

Tudo o que se considera "bom negócio" costuma ser chamado de "negócio da China". Mas a nova expressão para boas oportunidades poderá ser "negócio da América", o que apenas atualiza o antigo "fazer a América". Em primeiro lugar, porque os acontecimentos na China estão revelando um grau até então insuspeitado de instabilidade regional, em vista das ameaças a Taiwan.
Mas a possível vantagem das Américas não deriva apenas de uma eventual frustração ou insegurança com o gigante chinês. Há também fatores positivos do lado de cá. Eles se tornam mais evidentes nestes dias, quando ocorrem reuniões continentais de importância, do encontro em Cartagena que reafirmou o propósito de criar até 2005 uma Área de Livre Comércio das Américas (Alca) à reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento, que se inicia segunda-feira em Buenos Aires.
O secular ceticismo frente à região vem dando lugar a um otimismo crescente. O Mercosul torna-se aos poucos uma referência para países como o Chile ou mesmo a União Européia. As Américas valem mais.
Mas a confiança hoje maior em esquemas econômicos regionais como o Mercosul ou a Alca é insuficiente. Nos próximos dias, em Buenos Aires, o BID terá na sua agenda dois temas fundamentais: o risco da dependência de capitais externos especulativos e a importância da infra-estrutura educacional para o desenvolvimento. Nessas duas áreas as deficiências latino-americanas continuam evidentes e preocupantes.
Fazer um "negócio da China" sempre significou, também, levar vantagem de modo excepcional ou até mesmo ilegítimo, insustentável. Os dicionários da língua portuguesa já registram, para o substantivo "américa", o sentido de "bom negócio". Aos poucos isso pode se tornar verdade, mas o risco de tudo não passar de ganho fácil e euforia passageira continua no ar.

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