São Paulo, sábado, 23 de março de 1996
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Palácio da Dinda

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Reclamaram de Collor ter feito um jardim de péssimo gosto na sua casa. A fatura, modestíssima, foi de apenas USŸ 2 milhões. Por esse preço, tinha de sair uma porcaria mesmo. Mas Collor fez o jardim no que era dele, com dinheiro dele -roubado para ele por PC Farias.
Ainda bem que FHC, além de moderno, é modernizante e só pensa em termos de Brasil Grande. Não gasta nunca o que é dele: gasta verbas e cargos (que não são dele) para enfeitar o Planalto, a nova Casa da Dinda do regime neoliberal.
Se Collor fosse pródigo, abrisse mais e melhor a Casa da Dinda com suas cascatas e fontes luminosas para os congressistas sintonizados com os verdadeiros anseios de modernidade, ele ainda estaria no poder: teria evitado a CPI que o derrubou e fatalmente receberia dos congressistas apaziguados o direito de se reeleger.
Compreendo hoje a desconfiança que Tancredo Neves tinha de FHC. O açodamento que o então senador paulista tinha pelo poder era suspeito -em 1984, eu estava com Tancredo Neves, gravando um programa sobre Getúlio Vargas no Palácio da Liberdade, de meia em meia hora um assessor vinha dizer a Tancredo que FHC estava na linha. Tancredo mandava dizer que não podia atender, numa das vezes desabafou: "É a maior goela da classe política!"
Collor jamais esqueceu que, ao tomar posse, foi surpreendido com as boas-vindas do mesmo senador, antes da cerimônia, para uma conversa no sofá que toda a nação presenciou. Açodamento histórico: obrigou Jânio Quadros a desinfetar uma certa cadeira na Prefeitura de São Paulo.
O esquema FHC de poder está batendo recordes de rombos e roubos. Evidente que não suportaria uma CPI -daí a afobação em corromper com um descaramento que nunca se viu igual. Se Niemeyer imaginasse um FHC no Planalto, teria providenciado um espaço para a cascata e a fonte luminosa.

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