São Paulo, segunda-feira, 25 de março de 1996
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Serra quer método para reduzir pressão política sobre gastos

DENISE CHRISPIM MARIN
DE BUENOS AIRES

O ministro do Planejamento, José Serra, defendeu ontem a adoção de métodos que possam diminuir as pressões políticas sobre os órgãos que gerem as finanças públicas no Brasil e demais países da América Latina.
"Não tenho nada contra os políticos, até porque sou senador", afirmou durante um seminário preliminar à assembléia anual do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que começa hoje em Buenos Aires.
"Porém, considero importante descobrir mecanismos viáveis para retirar um pouco da pressão política sobre os gestores de finanças públicas", completou.
Essas declarações de Serra fizeram parte de sua argumentação contrária à proposta de Ricardo Hausmann, economista-chefe do BID, de criação de um CNAF (Conselho Nacional de Assuntos Fiscais) nos países latino-americanos.
A idéia causou polêmica na mesa e foi rechaçada também pelo ministro da Fazenda do México, Guillermo Ortiz.
Segundo Hausmann, esse organismo seria autônomo e permitiria a definição e manutenção da política fiscal e orçamentária. A CNAF teria poder de proibir novos compromissos de gasto público ou de elevação de impostos resultantes de pressões políticas e partidárias.
Serra afirmou que, no caso brasileiro, existiam vários impedimentos à criação deste conselho, como o fato de o país ser federativo.
A deteriorização da política fiscal no Brasil é uma das preocupações registradas no Informe Anual do BID. O organismo sugere "uma base mais duradoura e permanente ao reordenamento um tanto precário das finanças públicas".
Banco do Brasil
O BB (Banco do Brasil) deverá apresentar lucro no segundo semestre deste ano, conforme informou ontem o presidente da instituição, Paulo César Ximenes, em Buenos Aires.
A estimativa em reais, entretanto, foi mantida em segredo. Ximenes apenas declarou que o lucro deverá ser muito inferior ao prejuízo que o BB vai acumular nos primeiros seis meses deste ano -de US$ 5 bilhões a US$ 6 bilhões.
Isso significa que, no ano, o BB deve fechar suas contas com prejuízo. "Ninguém nunca espera que a recuperação seja de 100%."
Nos intervalos de seminários e reuniões, Ximenes deverá explicar a atual situação do BB para cerca de 15 bancos estrangeiros, com os quais mantém linhas de crédito. Explicou que sua intenção não é propor a privatização do banco. "Não estou vendendo o BB."
Ontem, ele mostrou o balanço da instituição a executivos da União de Bancos Suíços e para duas instituições alemãs cujos nomes não quis revelar. "A reação foi positiva e os acordos serão mantidos."
Não dizendo qual seria a posição do Executivo, Ximenes assegurou que a privatização do BB está nas mãos do Congresso Nacional.
"Seja com dono público ou privado, tenho que tornar o BB tão competitivo como um banco privado", declarou.

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