São Paulo, segunda-feira, 25 de março de 1996 |
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Sem os ruralistas, Frei chega ao Brasil
CLÓVIS ROSSI
Foi recebido no aeroporto pelo chefe-de-cerimonial do Itamaraty, Frederico Araújo. A comitiva chilena, que inclui ministros e empresários, sofreu uma pesada baixa política antes mesmo de embarcar para o Brasil. Um de seus integrantes, o presidente da SNA (Sociedade Nacional de Agricultura), Ernesto Correa, cancelou a sua participação. Foi uma forma de protesto pelo acordo negociado pelo governo chileno com o Mercosul (bloco comercial que reúne Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai). Os agricultores chilenos declararam guerra ao governo sob a alegação de que a eliminação das tarifas de importação para produtos agropecuários levará ao colapso de 200 mil agricultores. Modernização lenta A SNA não aceita a argumentação do governo de que a eliminação de tarifas não será imediata, mas em um prazo relativamente longo, entre 15 e 18 anos. Correa chegou a renunciar ao cargo, para dar mais ênfase ao protesto, mas seus colegas preferiram mantê-lo e encampar a disputa com o governo. Os produtores rurais alegam que, com tarifa zero, milho, trigo, arroz e gado argentinos invadirão o Chile a preços que não podem ser praticados pelos ruralistas chilenos. O presidente Eduardo Frei, em entrevista que concedeu à Folha na segunda-feira passada, admitiu que a agricultura "se modernizou com maior lentidão", em relação a outros setores. Apesar disso, Frei diz que há a vontade política de avançar na negociação com o Mercosul. O presidente chileno defende um processo que define como sendo de "integração real". "Não é somente uma questão de tarifas alfandegárias. Estamos falando de serviços, de integração financeira, de integração física, de integração energética." Foi por isso que incluiu na sua comitiva uma numerosa delegação empresarial, de cerca de 130 membros. Consultas políticas Mas o fundamental da visita será, de qualquer forma, o lado político. Frei encontra-se hoje com o presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso. Os dois presidentes acertarão um mecanismo de consultas políticas anuais entre os dois países. Assinarão ainda cinco convênios, a saber: 1 - Para a cooperação cinematográfica; 2 - convênio zoo e fitossanitário, para facilitar a entrada de produtos agrícolas em cada um dos países; 3 - um de intercâmbio entre as escolas diplomáticas brasileira e chilena; 4 - um esportivo; 5 - um acordo agrícola mais amplo do que o zoofitossanitário. Comércio O empresariado chileno terá pelo menos três reuniões importantes com seus colegas brasileiros e com representantes do governo. Um deles será um encontro de empresários da agroindústria, em Salvador (BA), com a presença do vice-presidente Marco Maciel. Em Porto Alegre, haverá uma roda de negócios e, em São Paulo, um seminário sobre investimentos e comércio Brasil-Chile. Hoje, o comércio entre os dois países movimenta algo em torno de US$ 2,250 bilhões, nos dois sentidos, com leve vantagem para o Chile. O Chile exportou, em 1995, cerca de US$ 1,194 bilhão para o Brasil e importou US$ 1,057 bilhão. Texto Anterior: Serra quer método para reduzir pressão política sobre gastos Próximo Texto: FHC janta com exilados Índice |
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