São Paulo, segunda-feira, 25 de março de 1996
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Pelé e a placa

JOSUÉ MACHADO

Pelé ofereceu uma placa ao atacante corintiano Marcelinho Carioca pelo belo gol que fez contra o Santos. Marcelinho, que o Zagalo não convoca, chapelou o zagueiro com um toque raro e colocou a bola no canto do gol de Edinho.
Na placa, a gravação com um texto em que se lê, entre outras coisas, "... pelo gol que você fez em cima do meu filho Edinho". Para que o Marcelinho, que o Zagalo não convoca, fizesse gol "em cima" do Edinho, seria preciso que o goleiro estivesse com ele na cabeça ou nos ombros. Quem sabe num bandejão, de onde o sorridente saci chutaria com precisão. Será isso?
Os jogadores fazem gols "em cima" dos goleiros e falta "em cima" dos adversários. Por que? Linguagem criativa de locutores esportivos. O que eles criam de expressões antológicas que ameaçam se eternizar é uma grandeza.
É possível que essa história de fazer falta "em cima" de alguém seja culpa do Juninho.
Zagueiros rudes se acostumaram a passar por cima dele literal e distraidamente. Dentro das quatro linhas, claro. Depois percebiam uma coisinha se mexendo, olhavam para o ex-tapete verde e lá estava ele -embaixo. Daí então o muito justo "em cima" que se alastra como catapora.
Agora só nos resta ir para cima deles, correr atrás do prejuízo, apesar do péssimo estado do gramado, enquanto o árbitro não estraga o espetáculo. Minha mãe do céu!
Pelo menos não falam que o Pelé "consignou um belo tento", como se lê em arquivos de velhos jornais. Mas seria o caso de reverem essa história de fazer faltas ou gols "em cima" de quem quer que seja. Antes dessa epidemia, dizia-se que o Marcelinho, que o Zagalo não convoca, havia feito um gol no Santos, no Botafogo ou contra um ou outro. E que o zagueiro Arranca-Toco tinha feito a falta em Romário, em Biebieto ou no Animalzinho irreverente.
"Que empate o melhor!", repetiu para os argentinos o Zagalo, que não convoca o Marcelinho. Por que será?
O dobro do quê?
O leitor Bernardo Zicman, de Vargem Grande paulista, SP, aponta "um erro aritmético muito frequente na Folha: 'duas vezes mais' em vez do dobro; ou 'três vezes mais' em vez do triplo".
"É óbvio", diz, "que o dobro de X é 2X, uma vez mais; e que duas vezes mais que X é: X + 2X = 3X."
Diz mais: "No entanto somos obrigados a ler que o preço do produto Y aumentou duas vezes mais, quando o que aconteceu, na realidade, é que ele dobrou de valor. Por que esse crime de lesa-aritmética?" E manda um exemplo de distração relacionada com valores registrado em manchete de 7 de janeiro passado:
"Casa luxuosa... nos EUA custa R$ 146,50% menos que no litoral norte."
Pergunta, baseado na impressão que teve da primeira rápida leitura:
"Custaria a casa apenas R$ 146,50? Ou custaria 146,5% menos que no litoral norte de SP? Se for assim, seu preço seria negativo; o comprador receberia do proprietário 46,5% do valor cobrado no litoral norte. Seria essa manchete uma cacofonia numérica?"
P.S. - Por que o Zagalo não convoca o Marcelinho? Haverá três ou quatro melhores do que ele na seleção?

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