São Paulo, segunda-feira, 25 de março de 1996
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Ardendo na pele

HELCIO EMERICH

A fabricação e a venda de casacos de peles não é um tema frequente em publicações brasileiras de marketing.
A "fur industry", no mercado americano, vem tentando sobreviver, pois movimentou cifras anuais em torno de US$ 2 bilhões, nos anos 80, e, na década de 90, amargou um declínio de 50% nas suas vendas.
A crise resultou no fechamento de 200 pontos-de-venda independentes, e a maior cadeia do ramo, a Evans, desativou 60 lojas em shoppings.
A partir de 94, o setor ensaiou uma reação e lançou campanha coordenada pelo Fica, entidade que reúne criadores, processadores e fabricantes de peças com peles.
Passando o pires entre seus associados, a Fica recolheu US$ 1 milhão para "marketing de reposicionamento", com a meta de convencer a opinião pública de que um casaco de pele é luxo e beleza.
Uma tarefa ingrata, pois essa indústria virou alvo predileto de grupos de movimentos de ecologistas, liderados nos EUA por uma ONG chamada Peta ("People for the Ethical Treatment of Animals").
A estratégia de combate vai de manifestações de protesto em frente à lojas, exposições e desfiles até a execração pública de celebridades posam como modelos para fabricantes.
A "supermodel" Naomi Campbell foi convencida a desistir do papel de apresentadora de uma nova linha de casacos das lojas Nordstrom.
Elizabeth Taylor foi contemplada como o "Turncoat", uma espécie de prêmio-limão conferido pela Peta a quem colabora com a indústria (ela havia estrelado um anúncio promovendo casacos de mink da marca Blackgama).
E o figurinista especializado em peles, Bob Mackie, ganhou o estigma de "designer da morte", durante passeata realizada por ativistas na porta de seu show-room.
Numa outra ação de guerrilha, a mesma ONG invadiu a sede da revista "Vogue", "decorando" a redação com pôsteres e adesivos em protesto contra a veiculação dos anúncios patrocinados pelo Fica.
Com apelos mórbidos ("Compre uma pele e escorregue no sangue de um animal morto"), a Peta elegeu jovens como público-alvo de suas campanhas, e os fabricantes de artigos de pele reconhecem que o estrago na imagem do seu negócio foi arrasador.
Faz parte da sua contra-ofensiva uma ação de esclarecimento dirigida para o mesmo "target".
A tese é a de que o comércio de peles tem um papel importante na preservação ambiental, pois elimina certos animais que destroem o "habitat" de outras espécies. Dá para acreditar?.

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