São Paulo, segunda-feira, 25 de março de 1996
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Taiwan e China buscam o fim da crise

JAIME SPITZCOVSKY
ENVIADO ESPECIAL A TAIWAN

Taiwan e China disseram ontem estar dispostos a promover encontro entre seus dirigentes a fim de desfazer a crise que mergulhou a região numa tensão não vista desde a década de 50.
As propostas de negociação apareceram no dia seguinte à vitória de Lee Teng-hui, do Kuomitang, na primeira eleição presidencial direta da história de Taiwan.
Ele venceu com 54% dos votos, apesar dos esforços de Pequim para enfraquecer a sua candidatura.
Em meio aos sinais de pacificação, Lee Teng-hui, atual presidente, afirmou que pretende continuar sua política de buscar maior participação no cenário internacional.
A estratégia inclui, por exemplo, recuperar uma cadeira na Organização das Nações Unidas (ONU).
Essa política desafia a China, que considera Taiwan parte de seu território e busca forçar a reunificação. Como uma "província renegada", Taiwan não teria direito a conduzir uma diplomacia própria, sustenta o governo de Pequim.
Em 1949, os comunistas venceram a guerra civil, e os nacionalistas se refugiaram em Taiwan.
"Taiwan considera 'seriamente' a idéia de assinar um acordo de paz com a China e deseja iniciar imediatamente negociações para um encontro de cúpula", disse o primeiro-ministro Lien Chan, eleito anteontem vice-presidente na vitória do Partido Nacionalista.
Críticas
A China repetiu a idéia de um encontro bilateral, e sua imprensa noticiou ontem a vitória de Lee Teng-hui sem atacar o presidente de Taiwan, como fazia com frequência.
Apenas a imprensa pró-Pequim de Hong Kong voltou a criticar Lee Teng-hui, o primeiro dirigente democraticamente eleito em 5.000 anos de história chinesa.
A China acusa Lee Teng-hui de ter um plano secreto para levar Taiwan à independência, ou seja, renunciar à reunificação.
O governo chinês deslanchou manobras militares no último dia 8 a fim de intimidar Taiwan e de enfatizar a sua promessa de invadir a ilha caso ela decida declarar independência.
Lee Teng-hui nega defender a independência de Taiwan, mas condiciona a reunificação à democratização da China.
Numa tentativa de esconder o fracasso de sua estratégia de intimidação, a China afirmou que as manobras militares "provocaram um duro golpe" nas forças que defendem a independência.
"Independente de qualquer eleição que a área de Taiwan faça e de seu resultado, duas coisas não mudam: uma é que Taiwan é parte da China e a outra é que o líder de Taiwan é um líder local", disse Shen Guofang, porta-voz do ministério das Relações Exteriores chinês.
Pró-independência
O Partido Progressista Democrático, a favor da independência, com o candidato Peng Ming-min, obteve um segundo lugar, com 21,13% dos votos.
O resultado ficou atrás dos cerca de 35% atingidos em outras eleições, mas acima dos 15% apontados em pesquisas pré-eleição.
O Ministério das Relações Exteriores chinês voltou a criticar a interferência do governo dos EUA.
A Casa Branca enviou à região de Taiwan dois porta-aviões, na sua maior mobilização naval na Ásia desde o fim da Guerra do Vietnã, ocorrido em 1975.
Taipé (capital) testemunhou ontem diversos eventos para comemorar a vitória de Lee Teng-hui.
Na área financeira, espera-se hoje uma alta na cotação das ações, sinal de confiança em tempos de maior estabilidade na ilha.

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