São Paulo, segunda-feira, 25 de março de 1996
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ERRO GRAVE

É quase unânime que a crise financeira do Estado tem sido o grande vilão na instabilidade econômica do país. O próprio governo aponta o déficit público como motor da inflação. E as reformas apóiam-se no argumento -correto- de que sem reequilibrar as contas do Estado a estabilização não tem solidez. Não há como aceitar, portanto, a farta distribuição de recursos e promessas que o governo federal vem promovendo.
Dada a facilidade com que se liberam bilhões de reais para o Banespa, o Econômico, o Nacional e o Banco do Brasil, para Estados e agora até para o município de São Paulo, pode-se ter a impressão de que todos os problemas financeiros foram, desse modo, facilmente resolvidos. Ledo engano. A dívida interna cresce em velocidade assustadora e, cedo ou tarde, seu custo terá de ser pago.
De início, fica claro que o passivo público e os rombos que de um modo ou outro acabam no Tesouro Nacional são muito maiores do que se imaginava. O déficit é só uma parte do problema. A quebra da agricultura, a falência dos Estados, o obscuro rombo patrimonial de bancos, as brutais dívidas das estatais são fantasmas que pouco a pouco se concretizam.
A contenção dos preços agrícolas serviu de apoio para a queda da inflação. Mas no final do 1995 o governo acabou refinanciando R$ 7 bilhões devidos por produtores rurais por mais sete anos e a juros subsidiados. Estimativas preliminares apontaram que o subsídio custará R$ 2,4 bilhões só nos dois primeiros anos.
Sob pressão do governo, os empréstimos do Banco do Brasil a usineiros, grande parte dos quais são inadimplentes, acumulam R$ 5 bilhões. O rombo do Estado de São Paulo, produzido por juros altos e administrações sobre as quais recaíram graves suspeitas, é da ordem de R$ 15 bilhões. O socorro a bancos, agora com mais R$ 5,2 bilhões destinados ao BB, passa da casa dos R$ 25 bilhões.
Tudo isso pode ser financiado por algum tempo. Mas, para tanto, é necessário que se viabilizem mecanismos para, de algum modo e algum dia (que não esteja fora de vista), enfrentar esses passivos. Ora, apesar do discurso de austeridade, o governo deixa a impressão contrária, de quem acredita que dívida não é problema, que dinheiro não faltará, que a União tudo pode. Engana-se gravemente.

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