São Paulo, segunda-feira, 25 de março de 1996
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A alma lavada de FHC

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Suspeitava-se de sujeira no ar -e havia mesmo. Tanto que, passada a ameaça da CPI dos Bancos, o presidente da República declarou-se de alma lavada -donde se deve concluir que ela devia estar suja. E como a operação da lavagem custou o preço de muita sujeira, o banho não valeu muita coisa.
Arautos da credibilidade forçada nos bancos continuam garantindo que a CPI poria fogo no país. O argumento foi brandido pelo próprio governo e repetido pela turma interessada e incrustada na mídia.
Na mesma semana em que a CPI foi assassinada, o Banco do Brasil declarou um rombo que é o maior da história bancária em qualquer tempo e em qualquer país. Somando-se rombos privados e oficiais, fica evidenciada a fragilidade do sistema.
Pior do que a fragilidade, que seria estrutural e decorrente de uma economia subsidiada pelo governo (negação absoluta da apregoada economia de mercado), é o roubo conjuntural que pelo menos em dois casos (Nacional e Econômico) ficou evidenciado.
A tática dos interessados é nada averiguar, deixar os roubos impunes e manter intacta a rotina atual, facilitando e até mesmo exigindo novos roubos (prefiro usar a palavra "roubo" para designar o que os técnicos chamam de "rombos". É o que Flaubert chamaria de "mot juste".)
A maquiagem nos balanços do Nacional ao longo de dez anos revelou que presidentes da República, ministros da Fazenda e firmas de auditoria ou foram idiotas ou cúmplices com o roubo que afinal será pago por todos nós. Nem os bancos nem o governo produzem dinheiro, apenas administram (mal) o dinheiro que é o produto de todos nós. Não adianta lavar a alma se as mãos continuam sujas.

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