São Paulo, segunda-feira, 25 de março de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

E a Caixa?

VALDO CRUZ

Brasília - O uso político quebrou o Banco do Brasil, que só não fechou as portas porque tem como acionista o Tesouro Nacional. E a Caixa Econômica Federal?
A Caixa, até agora, não está na mesma situação do BB. Fechou o ano passado com um lucro pequeno, de R$ 221 milhões, mas pelo menos não amargou um prejuízo igual ao do Banco do Brasil, de R$ 4,2 bilhões.
O problema é que, como a fonte do BB secou, o governo começa a se valer da Caixa para fazer as suas operações políticas de risco. Aquelas que podem dar certo, mas que nos últimos anos foram minando o BB.
Dentro do governo, a nova opção pela Caixa é reforçada com um argumento imoral: ela não tem acionistas minoritários para protestar contra operações políticas, como estava ocorrendo no Banco do Brasil. Ou seja, na CEF dá para fazer o serviço sem chiadeiras.
Daí que o governo decidiu entregar à Caixa a tarefa de fazer empréstimos para salvar Estados falidos. Uma operação de risco, que pode comprometer a instituição caso ocorra uma inadimplência geral.
Os empréstimos foram concedidos com garantias, alegam os governistas. Mas, diante de um governo com uma base de sustentação frágil, é pouco provável que a CEF tenha poder para executar Estados maus pagadores.
Além do uso político, a Caixa tem uma série de abacaxis para descascar. O Tesouro deve R$ 1 bilhão para a instituição, sem falar nos R$ 10 bilhões de subsídios da casa própria que ela honrou em nome da União.
Diretores têm reclamado que, toda vez que tentam falar desses problemas com a equipe econômica, a resposta é a mesma: no momento, existem outras prioridades. Um dia, o governo pode acabar descobrindo que criou um novo Banco do Brasil.

Texto Anterior: Indigestão
Próximo Texto: A alma lavada de FHC
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.