São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 1996
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Mudanças no Mappin

CELSO PINTO

O Mappin anuncia, hoje, sua mudança mais radical desde que foi fundado, em 1913, ainda sob o nome de Mappin Stores.
Ele continuará sendo a única grande loja de departamento com ampla linha de produtos no país, depois que a Mesbla e a Renner se especializaram em alguns segmentos. Dividirá suas operações, no entanto, em quatro unidades de negócio: eletroeletrônicos; lar; moda e beleza; e esporte e lazer.
Cada uma das unidades será gerida com autonomia e poderá gerar cadeias de lojas especializadas. A primeira já está definida: será o "Mundo Eletrônico Mappin", que deverá abrir duas lojas ainda este ano na área metropolitana de São Paulo. Nas lojas amplas nos shopping centers, o lay-out será redesenhado de forma a separar claramente as quatro unidades.
A intenção é manter a vantagem de ter uma loja de departamento geral, com a flexibilidade de poder explorar cada segmento por meio de lojas independentes. As implicações são enormes, desde a logística específica com os fornecedores até sistemas independentes de preços e financiamentos. Abre, ainda, a possibilidade de explorar segmentos por meio de "franchising".
A mudança é, no fundo, um tributo ao acirramento da concorrência externa na área de varejo. Alguns gigantes, como a Wal-Mart, já chegaram, e outros certamente virão. Quem não se preparar para o novo ambiente mais competitivo terá dificuldades para sobreviver.
Dos grandes grupos varejistas internacionais, sabe-se que pelo menos cinco já andaram rondando o Brasil: a J.C. Penney, a Kmart, a Woolworth, a Sears e a Toys "R" Us. O mais provável é que busquem parceiros locais e o próprio Mappin é um candidato óbvio.
O Mappin está rediscutindo seu futuro há algum tempo. Recentemente, contratou Pacifico Paoli, ex-superintendente da Fiat no Brasil, para tocar suas operações.
Por trás dos movimentos do Mappin está uma aposta sobre o futuro do setor de varejo, no Brasil e no mundo. Lojas de departamento já foram consideradas, há alguns anos, dinossauros em extinção. Hoje estão revivendo.
O caso mais expressivo de recuperação é o da Sears, o gigante americano. A cadeia desceu ladeira abaixo, aceleradamente, até 1992, quando começou uma bem-sucedida reestruturação, que lembra o desenho de reforma do Mappin. Redefiniu o foco, dividiu suas operações em áreas onde era mais forte e abriu cadeias de lojas especializadas, aproveitando a boa penetração de seu nome entre os consumidores.
A vinda da Wal-Mart no ano passado excitou a imaginação dos brasileiros. Na prática, ela opera em outro segmento -o das chamadas "lojas de desconto". São atacadistas que operam com menos itens, na periferia dos grandes centros e com uma logística impecável. Com menos custos e margens, operam com preços mais baixos.
Uma análise feita por Daniel Sweeney, da IBM Consulting Group, publicada pela revista "Chain Store Age" de setembro do ano passado, sugere que esse tipo de loja, onde 3 empresas dominam 80% do mercado americano, chegou à maturidade. Já as lojas de departamento mais gerais, com um alvo de público distinto, depois de perderem mercado e passarem por amplas reestruturações, hoje estão superando as lojas especializadas em desempenho de vendas e lucros.
Duas outras tendências parecem claras no varejo internacional: a concentração dos grandes grupos e sua internacionalização. A guerra mal começou no Brasil. Até 1990, por exemplo, o Mappin não tinha um único item importado em sua linha. Hoje os importados respondem por 18% do total (excluídos os produtos da Zona Franca de Manaus).
É difícil dizer em que direção o mercado será mais atraente. O certo é que, com mais concorrência e mais abertura externa, o consumidor deverá sair ganhando.

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