São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 1996
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Governo aceita 'moeda podre' para Light

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo recuou e decidiu aceitar até 30% do valor da privatização da Light em moedas de privatização (moedas "podres" e títulos de dívida externa, por exemplo) para facilitar o financiamento do processo de privatização da empresa energética do Rio.
O leilão, previsto para 18 de abril, foi adiado para 21 de maio. O ministro José Serra (Planejamento) disse ontem que as medidas foram tomadas "para eliminar fatores de incerteza" do processo. O ministro vinha declarando, desde o ano passado, que a Light teria que ser paga totalmente em dinheiro vivo.
O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) vinha recebendo queixas de investidores de que o preço da Light era muito alto. O governo temia falta de compradores no leilão.
A Light está estimada em pelo menos R$ 4 bilhões. Segundo Luiz Carlos Mendonça de Barros, presidente do banco, o Conselho Nacional de Desestatização mudou o edital para "acomodar a deterioração externa sob as condições de investimento do Brasil, que são evidentes". Em seguida, se explicou:
"O mercado está nos dizendo que, em função de uma série de eventos, como a CPI dos Bancos e o problema (na reforma) da Previdência, o investimento no Brasil está a exigir uma taxa de retorno maior do que se tinha no passado."
Segundo Barros, se for comparada a cotação de bolsa da Light no dia 2 de fevereiro e agora há uma diferença de 14%. "Se o mesmo cálculo for pego para o índice do Bovespa, que é uma cesta de ações, temos uma queda da ordem de 14% ou 15%." Para ele, o que o governo está fazendo é adequar condições de financiamento, não de preço.
Tarifas
Entre as mudanças no contrato -a ser publicado hoje, segundo Elena Landau, diretora de Privatização do BNDES-, está o aumento da liberdade de gestão para os administradores, o que torna o governo fiscalizador da qualidade de serviço e não um co-gestor.
Outra mudança foi a redução de risco do investidor por alterações nas cláusulas tarifárias, como definição de valores de multas. O período da primeira revisão tarifária passou de cinco para oito anos.
Segundo Landau, a cada cinco anos está prevista revisão da tarifa em que se discutirá o custo a partir do fator X -conceito de rentabilidade internacional, que pode ser positivo ou negativo. "A experiência mostra que esse fator é negativo, o que beneficia o consumidor."
Malha ferroviária
Foi marcado para 14 de junho o leilão da segunda malha ferroviária -linha Centro-Leste, avaliada em R$ 316,9 milhões. O pagamento será de 20% à vista. O saldo, após carência de dois anos, será pago em 30 anos em parcelas trimestrais.

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