São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 1996
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Lojista usa arma para se defender

Camelôs atiram pedras em comerciantes

BETINA BERNARDES; MALU GASPAR; VICTOR AGOSTINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto a maioria dos comerciantes fechava as portas para evitar saques e agressões, o dono da loja de armas A Gaúcha, na avenida São João, enfrentou os manifestantes com a loja aberta e uma espingarda clibre 12.
"Aqui vocês não vão entrar", gritava Marco Aurélio Rodrigues, empunhando a arma.
Os manifestantes, entre os quais não havia só ambulantes, revidaram, atirando pedras contra o estabelecimento.
Uma delas acertou a testa do advogado Wanderley Costa, que foi comprar varas de pescar. "Sempre frequentei o centro, e nunca vi uma coisa dessas. Se não tivessem acertado em mim, iriam começar a quebrar a loja."
"Se eu não estivesse com a arma, minha loja seria invadida", afirmou Rodrigues.
Facão
No mesmo quarteirão, o dono do bar Estrela do Vale, Manuel Pereira, tentou conter os manifestantes com uma vareta de ferro e depois com um facão.
"Fomos avisados da confusão, mas não deu tempo de fechar", disse Alfredo F. Pereira, filho do dono do bar, que foi saqueado e teve alguns vidros quebrados.
O ambulante Isaac das Neves, 21, que vende bebidas e guarda-chuvas na rua 25 de Março, foi detido ao tentar invadir o prédio das Grandes Galerias, que liga a rua 24 de Maio à avenida São João.
Neves foi agarrado por um PM sem farda, que apontou um revólver para a cabeça do ambulante. Neves ficou quatro horas detido no 3º DP e depois foi liberado.
Ao perceberem que não conseguiriam entrar nas Grandes Galerias, os manifestantes danificaram a porta de aço galeria na rua 24 de Maio.
Defesa
A vendedora ambulante Enedina Maria da Silva foi a última a sair da rua 15 de Novembro. Somente à 1h45, ela concordou em ser retirada do local.
Enedina chegou ao centro às 8h30, como faz todos os dias há três anos. Na sua barraca, vende "roupas esportivas", e diz que fatura R$ 50 por dia.
Às 20h30 de quarta-feira, após cobrir a barraca com uma lona, Enedina sentou-se sobre ela. "Daqui eu não saio de jeito nenhum", afirmava.
Mesmo durante o enfrentamento entre camelôs e a polícia, quando algumas barracas chegaram a ser viradas, Enedina não deixou seu lugar.
Quando todos os ambulantes já haviam concordado em retirar suas mercadorias, à 1h45, o administrador regional Victor David teve de convencer pessoalmente a vendedora a aderir.
"Só desci porque considero o Victor um homem digno, mas amanhã (ontem, quinta-feira) estou de volta", afirmou.
"Vou dormir aqui na área, bem perto da minha mercadoria."
(BB,MG e VA)

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