São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 1996
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Globalização da economia é criticada

ANTONIO ROCHA FILHO
LUIZ ANTONIO CINTRA

ANTONIO ROCHA FILHO; LUIZ ANTONIO CINTRA
ENVIADOS ESPECIAIS A SALVADOR

Professor diz que processo é perverso para o desenvolvimento das cidades

A globalização da economia pode se tornar algo perverso para o desenvolvimento das cidades. Isso porque a abertura das economias nacionais pode aumentar o desemprego e a concentração do capital, com as empresas maiores engolindo as menores.
Essa foi a avaliação dos principais debatedores na abertura da 4ª Conferência Cideu (Centro Ibero-Americano de Desenvolvimento Estratégico Urbano), que começou ontem em Salvador (BA).
O evento, que termina hoje, foi organizado pela Prefeitura de Salvador e teve a presença ontem de cerca de 200 pessoas, representando várias cidades de países ibero-americanos, organismos internacionais -como o BID-, universidades e centros de estudos.
A Cideu é uma associação sem fins lucrativos criada em 1988, por iniciativa da Prefeitura de Barcelona (Espanha). Hoje conta com 44 cidades como sócias -11 serão aprovadas hoje-, de 17 países.
Desenvolvimento
O objetivo do encontro é discutir propostas para o desenvolvimento das cidades, tendo como principal proposta a participação das comunidades locais nas soluções.
Durante os debates de ontem, o maior crítico da globalização foi o professor-titular de geografia humana da USP (Universidade de São Paulo) e também professor da UFBA (Universidade Federal da Bahia), Milton Santos.
Em sua palestra, a mais concorrida do dia, Santos criticou a atuação do governo federal e de organismos internacionais, como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e o FMI (Fundo Monetário Internacional). Para ele, são "agentes" da globalização.
"O discurso central é o de que só há uma modernidade possível, quando essa modernidade precisa necessariamente ser refeita pelos países", disse Santos.
Para o professor, a globalização cria grandes corporações e acaba por "marginalizar famílias, pequenas empresas e instituições locais". Santos afirmou ainda que o presidente Fernando Henrique Cardoso, "colega e amigo", foi durante sua vida acadêmica um dos teóricos da globalização.
Alternativas
O secretário-geral do Cideu, o espanhol Francesc Santacana, 53, afirmou concordar com o professor da USP. Santacana ressalvou no entanto que Santos foi "provocador" em sua participação.
Para Santacana, é possível haver alternativas para o desenvolvimento das cidades que mesclem a as duas culturas, a da globalização econômica e a cultura local.
"A globalização é uma prática, e não um conjunto de idéias. E a forma como se dá a globalização pode -e deve- ter a participação das comunidades das cidades."
Para o peruano Eduardo Neira, professor de mestrado em arquitetura da UFBA, a globalização não é favorável às cidades.

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