São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 1996
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CDs piratas têm o melhor das raridades dos Beatles

PAULO CAVALCANTI; MARISA ADÁN GIL
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Neste mês está chegando às lojas do mundo todo "Anthology 2", contendo mais dois CDs com gravações inéditas dos Beatles.
Fãs e pesquisadores se dividem quanto ao lançamento, mas geralmente chegam a um resultado: a pirataria é melhor.
Ainda são imbatíveis as duas caixas "Artifacts", cujo sucesso forçou o lançamento oficial por parte da EMI e dos reticentes ex-Beatles.
Lançados pela pirataria oficial italiana em 1994 no selo Big Music, cada pacote contém cinco CDs focalizando a carreira inteira dos Beatles, com uma excelente qualidade sonora, libreto explicativo e acabamento gráfico primoroso.
Além de ter empanado o brilho do lançamento da série "Anthology", deve continuar sendo uma das melhores referências para uma visão completa e criteriosa das raridades do quarteto de Liverpool.
Os dois volumes de "Artifacts" têm uma quantidade maior de faixas gravadas em 1960 ainda com o baixista Stuart Stucliff. O "Anthology 1" trouxe só quatro delas -e não necessariamente as melhores.
Ao colocar coisas menos interessantes historicamente como a instrumental "Cayenne", os compiladores não optaram, por exemplo, por uma pré-versão de "I'll Follow The Sun" (gravada oficialmente em 1964 para o LP "Beatles For Sale"), mais rara.
Outra opção seria "Hello Little Girl", que os Beatles só registraram em estúdio na abortada sessão para a Decca, no início de 1962.
No Cavern Club
Os dois volumes de "Artifacts" apresentam várias gravações no Cavern Club, como um ensaio na íntegra com boa qualidade sonora, além de poderosa performance ao vivo de "Some Other Guy", em agosto de 1962, já com Ringo.
"Anthology" também falha em algumas "primeiras vezes" dos Beatles. Em "Artifcats 1", está o áudio da estréia do grupo na televisão, no programa "Peoples and Places", em dezembro de 1962, cantando "A Taste of Honey".
A estréia na BBC
"Anthology" não corrigiu uma falha de "Live at BBC", que é a ausência da estréia do quarteto no rádio. Ela está em "Artifacts 2".
Em março de 1962, ainda com Pete Best, tocaram "Dream Baby" e "Please Mr. Postman".
Detalhe: a primeira música, original de Roy Orbison, é cantada por Paul e só foi gravada pelos Beatles nessa oportunidade.
Outra ausência dos discos oficiais foi o não aproveitamento de "demos", gravações caseiras que os Beatles faziam para mostrar a outros artistas.
Nas caixas italianas, pode-se achar, por exemplo, John Lennon, com violão, cantando "Bad to Me e "Im'in Love", e Paul no piano apresentando a obscuríssima "One and One Is Two".
Mixagem original
Uma das reclamações comuns dos colecionadores em relação a "Anthology" é a mixagem.
É que George Martin, produtor dos Beatles e diretor do projeto, preferiu mixar as músicas do início da carreira em mono, como fez nos quatro primeiros discos, quando foram relançados em CD.
"Artifacts" é recheado de versões autênticas em estéreo, com clareza sonora e divisão de canais não encontradas nos CDs oficiais.
Mais petiscos de "Artifacts": a derradeira apresentação ao vivo do grupo (em San Francisco, no dia 29 de agosto de 1966, com "Nowhere Man" e "Paperback Writer"), as loucas mensagens de Natal que eles mandavam para os fãs e versões acústicas de músicas do álbum duplo "The Beatles" (68).
Apesar de todas as restrições, "Anthology" trouxe boas novidades até para os mais fanáticos.
"You Know What to Do", música de George Harrison incluída no primeiro volume e a versão de "And Your Bird Can Sing", do volume 2, ainda não tinham caído nas mãos dos pirateiros.
EMI
Edson Novais, 37, diretor de vendas da EMI-Odeon no Brasil, diz que a pirataria "é sempre um problema para as gravadoras".
"No caso dos Beatles, temos tentado fazer no Brasil lançamentos simultâneos aos dos EUA, mas não há como combater os discos piratas", disse Novais.

colaborou Marisa Adán Gil, da Reportagem Local

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