São Paulo, sexta-feira, 29 de março de 1996
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Pessach marca saída dos judeus do Egito

EITAN ROSENTHAL
ESPECIAL PARA A FOLHA

Foi a influência das nações hospedeiras e os preceitos alimentares da religião que moldaram as cozinhas judaicas: a Ashkenazita (ou ocidental; oriunda originalmente da Europa Central e Oriental) e a Sefaradita (ou oriental; proveniente do Oriente Médio e norte da África, como a vertente que se deslocou para a Península Ibérica.
O Pessach, a Páscoa Judia, comemora a saída do povo judeu do Egito, onde eram escravos do faraó, liderados pelo patriarca bíblico Moisés. Este ano acontece entre a noite do dia 3 e o dia 10 de abril.
A regra básica desta festa é a proibição de qualquer tipo de alimento fermentado. Durante o Pessach é proibido comer pão.
Come-se a matzá, ou pão ázimo, um tipo de bolacha de água, para lembrar as agruras que sofreram os antepassados em fuga, na travessia do deserto do Sinai.
O ponto alto do Pessach é o seder, um jantar ritual presidido pelo patriarca, que envolve orações, alimentos simbólicos, troca de presentes e um lauto banquete para a família reunida.
Os Ashkenazitas, que são maioria em São Paulo (cerca de 65% de um total de 80 mil judeus), tem sua cozinha baseada na herança russa. Húngara e polonesa, a empresária, gastrônoma e mãe judia Amália Herner recebe seus convidados com pedaços de matzá com mel, simbolizando vida doce e fartura.
Na sequência do jantar, após as rezas, guefilte fish (bolinhos cozidos de massa de peixe adocicada) com chrein (pasta de raiz forte com beterraba) e gelatina de peixe, caldo de galinha com kneidels (bolinhos de farinha de matzá), pato assado com purê de maçã e ferfele de matzá (um tipo de farofa).
Para a sobremesa, compota de frutas secas. Para beber, vinho tinto Kasher le Pessach (benzido pelo rabino).
A comida sefaradita lembra muito a cozinha árabe, mas tem suas próprias estrelas. A dona de casa judia-libanesa Arlete Cohen ficou tão conhecida por seus dotes de cozinheira e assediada na colônia que passou a aceitar encomendas para festas e jantares (tel. 862-5342).
No seu seder, Arlete serve kibe frito de matzá, carneiro assado com champignons, cebola recheada ao molho de tamarindos, abobrinha recheada com damasco.
Segue um assado de frango desossado em camadas com beringela frita e, ponto alto, o kabab garaz, (kibinhos recheados com pinolli ao molho de cerejas frescas).
Para sobremesa, sorvete de pistache e marzipã. Acompanha um café à moda turca aromatizado com água de rosas, o vinho, sempre Kasher le Pessach (veja em texto ao lado alguns endereços onde encontrar produtos para o Pessach).
O rabino Henry Sobel, presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista ressalta "as implicações éticas do pão em geral e da matzá em particular" e lembra aos judeus o preceito da "tzedaká", ou justiça social.
"Mais importante que agradecer a Deus pelo que nos deu é manifestar de maneira concreta a nossa solidariedade com os menos favorecidos". diz Sobel.

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