São Paulo, sábado, 30 de março de 1996
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FHC afirma que o fisiologismo acabou

AUGUSTO GAZIR

AUGUSTO GAZIR; EMANUEL NERI
ENVIADO ESPECIAL A SERRA TALHADA (PE)

Em Touros (RN), presidente diz que 'acabou a fase de jogar o dinheiro do povo na mão de poucos'

EMANUEL NERI
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem, em visita a Serra Talhada (PE) e Touros (RN), que seu governo não troca favores com políticos e que acabou a fase de "empréstimos políticos".
Em discurso de inauguração do açude Serrinha, em Serra Talhada (PE), FHC afirmou que não quer "o apoio comprado (de políticos), mas o apoio espontâneo de quem acredita nas reformas".
Disse ainda que "este Brasil da fisiologia já acabou".
Na semana passada, para conseguir derrubar a CPI dos Bancos e garantir a aprovação da reforma da Previdência, o governo trocou verbas e cargos por votos de parlamentares, prática que, em política, se chama fisiologia.
Na última segunda-feira, o governador Tasso Jereissati (PSDB-CE), um dos tucanos mais próximos a FHC, havia admitido que o governo federal "recorreu ao fisiologismo" para obter vitória nas votações do Congresso.
"Da maneira como está sendo o sistema político brasileiro é praticamente impossível, nas circunstâncias atuais, fazer valer alguns projetos sem um pouco dessa prática", afirmou Jereissati, referindo-se ao fisiologismo.
Empréstimos
Depois da visita a Serra Talhada, FHC foi a Cajueiro, colônia de pescadores no município de Touros (RN). Lá, o presidente afirmou que "acabou a fase dos empréstimos políticos" no Brasil.
FHC foi bastante aplaudido ao dizer que seu governo só vai liberar "empréstimo para quem paga e precisa".
"Muito frequentemente, o dinheiro era dado somente quando as pessoas não precisavam. Aí têm crédito alto", declarou. "Quando estão na pior não têm crédito. Isso não pode ser assim", disse.
"É difícil em um país que tem tradição de injustiça social atender à necessidade daqueles que não estão lá em cima, nos palácios, e que não têm os meios de que dispõem os poderosos, que têm influência na mídia e nos gabinetes ministeriais", declarou.
Serra Talhada
Em Serra Talhada, enquanto FHC discursava, os presentes agitavam bandeirolas e portavam camisetas com a figura estampada do maior líder político da região, o deputado Inocêncio Oliveira (PFL), a verdadeira estrela da festa.
No discurso na cidade pernambucana, FHC também fez referência à transposição das águas do Rio São Francisco, projeto idealizado no governo Itamar Franco (92-94).
"Não terei medo nenhum de analisar a questão do rio São Francisco sob a ótica de quem tem sede", afirmou.
A Folha revelou, anteontem, que o governo vai reservar R$ 500 milhões nos próximos quatro anos para o projeto e que deve anunciar, em maio, na Sudene, um pacote de liberação de verbas para o Nordeste de R$ 3,3 bilhões.
Reforma agrária
Entre os presentes à cerimônia em Serra Talhada, havia manifestantes do PT e do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) com faixas cobrando a reforma agrária.
FHC disse: "Quando há faixas que pedem terra, têm o meu apoio". Ligando o açude à reforma agrária, disse: "Não adianta ter água, e o pobre não ter terra para plantar".
O açude Serrinha, inaugurado por FHC, tem capacidade de armazenar 311 milhões de metros cúbicos de água e custou R$ 25 milhões. A obra começou a ser construída em 1955 e ficou 20 anos paralisada.
Obras inacabadas
O presidente disse que não vai começar novas obras, antes de concluir as inacabadas. "Vou acabar acreditando, não que o sertão vá virar mar, mas que finalmente o sertão vai ter água", afirmou Fernando Henrique.
Estavam presentes à inauguração do açude o vice-presidente Marco Maciel, o governador Miguel Arraes (PSB-PE), ministros e parlamentares e prefeitos da região.

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