São Paulo, sábado, 30 de março de 1996
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Contrato da BM&F bate Bolsa de Chicago

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros) desbancou ontem a maior Bolsa de futuros do mundo, a Chicago Mercantile Exchange, no primeiro dia de negociação dos contratos de dívida brasileira do tipo C-Bond.
Foram negociados na BM&F 3.434 contratos de "'C Bond", com valor de face de US$ 100 mil. O volume financeiro, descontado o deságio sobre o valor de face, foi de R$ 200 milhões (US$ 202 milhões).
Em Chicago, que vinha negociando uma média de 2.000 contratos diários de C-Bond desde terça-feira passada, o número despencou ontem para 622 contratos, com valor de face de US$ 50 mil.
Feitas as contas, a BM&F movimentou 11,22 vezes o volume de C-Bond na Bolsa norte-americana. Para o superintendente técnico da BM&F, Marco Aurélio Teixeira, isso foi um sinal de que o Brasil passou a ser o centro de formação de preços do C-Bond.
"Agora são eles que correm atrás de nós nesse mercado", disse Teixeira, entusiasmado, no fechamento dos negócios.
O C-Bond futuro (vencimento em 30 de abril) abriu cotado a US$ 0,5826 por dólar de face, bateu em US$ 0,5922 ao longo do dia, caiu até US$ 0,5878 e fechou a US$ 0,5897.
No exterior, o C-Bond no mercado à vista fechou a US$ 0,59 por dólar de face, segundo a corretora argentina Lopez León Brokers, uma das maiores desse mercado.
Marcelo Fleury, diretor da corretora, explicou que os preços menores do papel no mercado futuro não refletem pessimismo dos investidores em relação ao país, como poderia parecer.
Na verdade, essa diferença espelha a estratégia dos aplicadores, que usam o papel para ganhar um rendimento (juros) num determinado período de tempo.
"O futuro sempre vai custar menos que o à vista", disse Fleury.
O C-Bond foi emitido pelo país em consequência do último acordo da dívida externa brasileira, fechado pelo então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, no final de 1994. Há um volume de cerca de US$ 7,5 bilhões do papel.
O lançamento do contrato futuro de C-Bond pela BM&F facilita a vida dos investidores locais, que antes tinham de recorrer ao mercado internacional para operar com títulos da dívida brasileira.
"Ficou mais simples para todo mundo, pois basta apresentar garantias locais (dinheiro ou títulos) à BM&F para apostar no risco dos papéis brasileiros", disse Teixeira.
A volatilidade (oscilação) do C-Bond é o principal atrativo do papel na BM&F, avalia Marcelo Fleury. Com a estabilidade do Plano Real e a influência direta do governo nos dois mercados futuros mais importantes da Bolsa -o de juros e o de câmbio-, os investidores precisavam de um instrumento financeiro independente dos humores e ações de Brasília, afirmou o corretor.
A volatilidade é realmente grande. Por contrato, o investidor correu um risco ontem de R$ 400,00, contra o equivalente a R$ 6,00 no contrato futuro de juros (DI), estimou o superintendente da BM&F.
Os próximos contratos futuros de dívida a serem lançados pela BM&F serão o EI Bond e o argentino FRB.

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