São Paulo, sábado, 30 de março de 1996
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Góes estréia 'Gregório' no festival de Curitiba

MÔNICA SANTANNA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

A peça "Gregório", que estréia hoje no 5º Festival de Teatro de Curitiba, mostra cenas do cotidiano brasileiro na visão de três personagens: o nordestino Gregório -um personagem fictício que seria neto do líder Gregório Bezerra-, sua mulher e um doente mental.
Essa foi a forma encontrada pela família Góes para mostrar a paixão e o ódio pelo Brasil. "É a minha peça mais crua, menos poetisada, e o mais emocionante de todos os meus trabalhos", afirmou o diretor Moacir Góes.
A peça foi escrita pela mulher do diretor, Clara Góes, e tem como ator principal seu irmão Leon. Para Moacyr Góes, trabalhar em família acontece por "afinidades estéticas, não consanguíneas".
O personagem Gregório é um sertanejo, pobre e comunista convicto. Ele comete um assassinato sem motivo e inicia uma fuga desesperada da polícia.
Leva junto com ele a mulher, grávida, e um doente mental, que faz de refém para poder escapar ao cerco policial.
Durante a fuga, Gregório lembra do avô e começa a contar à mulher as histórias vividas pelo ex-deputado constituinte, um líder ligado ao Partido Comunista.
A mulher também evoca suas lembranças do tempo em que vivia no morro no Rio de Janeiro. São cenas sobre tráfico e os bailes funks, que frequentava.
"É um olhar sobre o Brasil de hoje", disse o diretor. "Cru, afetuoso, mas que mostra a realidade brasileira, com a pulsão de morte muito grande. Não há intenção de passar nenhum sentimento de cidadania, mas de mostrar que a vida e a possibilidade de afeto não se perdem em meio à tragédia."
Segundo Góes, o drama vivido pelos doentes mentais abandonados nos hospitais pode ser visto no refém de Gregório. "Ele é chamado de traste o tempo todo pelo casal", disse.
Góes, que dirigiu espetáculos como "A Escola de Bufões" e "Epifanias", ambos protagonizados por Leon Góes, disse que procurou usar as dificuldades existentes no Brasil de hoje como o próprio argumento da peça.
"Em meio às maiores atrocidades há uma alegria e uma felicidade momentânea do povo", declarou. Pode ser comparado, por exemplo, ao Carnaval realizado no Rio quando a cidade ainda não havia se recuperado dos estragos das enchentes. "É o teatro vivo."
"Gregório", depois das apresentações no Festival de Curitiba, segue para o Rio de Janeiro, onde tem estréia prevista no dia 3 de maio, no teatro Glória.
Moacyr Góes disse que ainda não tem data para levar o novo espetáculo a São Paulo. "Tenho muita vontade de trabalhar em São Paulo, mas tenho trauma porque as condições de trabalho oferecidas são ruins", afirmou.
Segundo o diretor, "Gregório" tem a cara de São Paulo. "Como a peça, é um lugar onde as contradições são muito acirradas."

Peça: Gregório
Autora: Clara Góes
Direção: Moacyr Góes
Elenco: Leon Góes e outros
Quando: Hoje e amanhã, às 21h30
Onde: Teatro Paiol (praça Guido Viaro, s/n, Curitiba, tel. 041-322-1525/ r. 223)

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