São Paulo, sábado, 30 de março de 1996
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3º PercPan começa com roda de samba

Festival termina hoje em Salvador

CARLOS CALADO
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Terminou em uma festiva roda de samba a primeira noite do 3º PercPan, anteontem, em Salvador.
Ao som de "Samba da Minha Terra", clássico de Caymmi escolhido como mote do evento, quase 50 percussionistas baianos, cariocas e senegaleses confraternizaram-se no palco do Castro Alves.
Foi uma noite repleta de boas surpresas. A começar do notável profissionalismo do show, iniciado pontualmente às 21h -algo inusitado para um evento realizado na descontraída capital baiana.
Responsáveis pela direção artística do festival, o percussionista Naná Vasconcelos e o compositor Gilberto Gil acertaram em cheio no roteiro e na condução do show.
Funcionando como apresentadores, os dois criaram simpáticas vinhetas musicais para introduzir as atrações da noite. Assim, o show correu de modo fluente, sem as interrupções tão costumeiras em eventos desse gênero.
A noite começou com o samba dos Herdeiros de Vila Isabel -grupo de jovens ritmistas cariocas dirigidos pelo percussionista Armando Marçal.
Entre várias levadas de samba, incluindo aplaudidos passos de miudinho, os percussionistas cariocas esquentaram o ambiente.
Mais alta ainda ficou a temperatura quando o grupo, Marçal, Gil e Naná voltaram ao palco para acompanhar a elétrica Elza Soares.
Com uma seleção de sambas gingados, incluindo "Se É Pecado Sambar" e "Falsa Baiana", a cantora conquistou a platéia, esbajando garra, simpatia e improviso.
Bastante aplaudida também foi a exibição do Didá. O grupo de garotas combina percussão pesada, vocais e coreografias africanas.
Já o trio mineiro Uakti capturou a atenção do público com seus exóticos instrumentos, no show mais suave e meditativo do programa.
Mas a atração mais esperada da noite era mesmo o senegalês Doudou N'Diaye Rose, que entrou em cena acompanhado por um grupo de 15 percussionistas.
Misturando danças acrobáticas com as multicoloridas roupas africanas, a família Rose impressionou principalmente pelo impacto sonoro de seus tambores, tocados com muita força.
Sem o mesmo suingue exibido pelos tambores dos cariocas e baianos, os percussionistas africanos mostraram uma diferença básica, em sua condição de virtuais antepassados da música brasileira.
Antes de servirem de meros veículos para a dança e o canto, as polirritmias dos tambores dos senegaleses africanos estão ligadas à expressão, à linguagem. Na África, é bom lembrar, os tambores têm o poder da fala. E como falam...

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