São Paulo, domingo, 31 de março de 1996
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1,8 milhão de mulheres 'sobram' no país

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

No que depende de quantidade, está cada vez mais difícil para as brasileiras em idade fértil encontrarem um parceiro.
Em 1993, havia mais 1,8 milhão de mulheres do que homens na faixa entre 15 a 49 anos no Brasil. Na média, são 95 homens para cada grupo de 100 mulheres.
Nos grandes centros urbanos como São Paulo e no Nordeste a diferença é ainda maior: 85 para 100.
Os cálculos foram feitos pela Folha a partir de dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios divulgada pelo IBGE. Não está computada a população rural dos Estados da região Norte.
A mortalidade prematura é a causa do déficit de homens nas regiões metropolitanas. No Nordeste, a defasagem é fruto da migração masculina para outras regiões. A explicação é do demógrafo Juarez de Castro Oliveira, gerente do projeto Componentes da Dinâmica Geográfica do IBGE.
Ainda são necessários novos estudos para comprovar a hipótese, mas ele vê indícios de que 9% a 10% das brasileiras não vão se unir a nenhum homem durante toda a vida.
Assassinatos
Normalmente, o contingente feminino é maior porque as mulheres vivem mais do que os homens -elas sofrem menos de doenças coronárias, e as estatísticas mostram que estão menos sujeitas à morte violenta.
Quanto mais alta a faixa etária, maior a diferença no número de homens e mulheres. Entretanto, os dados da PNAD mostram que essa defasagem, no Brasil, começa cedo, na faixa dos 20 a 24 anos.
A razão principal desse fenômeno é o crescimento das mortes prematuras por causa externa (homicídios, acidentes de carro, suicídio etc), principalmente de homens.
Em 1974, segundo dados do registro civil coletados pelo IBGE, 40% dos casos de homens que morriam entre os 15 e os 30 anos se enquadravam nas chamadas mortes violentas. Em 1994, esse índice saltou para 57%.
Migração
A grande mortalidade de homens jovens e os fluxos migratórios fazem com que a proporção entre populações masculina e feminina sofra variações dependendo da região e do tamanho das cidades.
O "mapa feminino" mostra, por exemplo, que o Estado campeão, em números absolutos, é o Rio de Janeiro. São 315.056 mulheres a mais do que homens.
Em termos relativos, o primeiro lugar fica com o Acre, onde existem 85 homens para cada 100 mulheres na faixa etária considerada fértil nos cálculos demográficos.
Nos Estados do Nordeste há, em média, uma predominância de 7% da população feminina em idade fértil sobre a masculina. O caso mais agudo é o paraibano, com índice de 13,4%. A razão básica é a migração dos homens para outras regiões do país.
Segundo o demógrafo Oliveira, as nordestinas costumam fazer migrações curtas, dentro da própria região, enquanto os homens se arriscam em Estados mais distantes.
O lado inverso dessa moeda são Estados que recebem grandes contingentes de migrantes masculinos. É o caso do Mato Grosso do Sul, onde há uma carência de cerca de 17 mil mulheres.
Em outros cinco Estados "sobram" homens: Tocantins, Roraima, Espírito Santo, Amapá e Santa Catarina.
Em Estados populosos do Sudeste, o aumento da população masculina causado pelo fluxo de migrantes nordestinos é amenizado pela mortalidade prematura de homens nas regiões metropolitanas.
Em São Paulo, por exemplo, o "mapa feminino" mostra um fenômeno curioso: enquanto faltam homens na capital e municípios vizinhos, eles sobram no interior.
Há duas razões para isso: o desvio do fluxo migratório da capital para cidades médias e a maior incidência de mortes por causas externas na Grande São Paulo.

LEIA MAIS sobre o excesso de mulheres na pág. 1-9

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