São Paulo, domingo, 31 de março de 1996
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Homicídio é 1ª causa de morte de jovens

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Vocifere contra os assassinos se você acha que está faltando homem em São Paulo. São os homicídios que estão dizimando os paulistanos entre 20 e 49 anos.
Em 1995, 26,7% dos homens mortos nessa faixa etária foram assassinados, segundo o Pro-Aim (Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade).
"Não é guerra civil porque é um problema muito localizado. Só é comparável a uma guerra porque quem morre é jovem e homem", diz a médica Vilma Pinheiro Gawryszewski, pesquisadora da USP de morte violenta.
Entre as mulheres da mesma faixa etária, a principal causa de morte são doenças decorrentes da Aids (veja quadro ao lado).
Exposição à violência
Os homens lideram nas principais causas de morte violenta em 1995. Entre as vítimas de homicídios, há 12 vezes mais homens do que mulheres -4.595 contra 387.
Nos acidentes de trânsito, morreram 3,6 mais homens do que mulheres (1.370 versus 377). Entre suicidas, a relação foi de 3,2 -389 homens e 121 mulheres.
Apesar do domínio masculino, homicídio já é a terceira causa de morte entre mulheres de 20 a 49 anos. Responde por 6,2% das mortes, mais do que câncer de mama.
Se a comparação entre sexos levar em conta todas as causas de morte, a proporção cai brutalmente. No ano passado, morreu uma vez e meia mais homens do que mulheres na cidade de São Paulo: 39.240 e 26.203, respectivamente.
O domínio masculino entre as mortes violentas tem motivos mais ou menos óbvios: os homens estão mais expostos ao perigo.
São eles que estão na linha de frente no tráfico de drogas, responsável por 60% das mortes na periferia, segundo a polícia.
O perfil das vítimas de homicídio em São Paulo é bem definido, segundo o Pro-Aim. Três quartos têm menos de 34 anos, só 1,1% cursou nível superior e 16,9% são trabalhadores braçais.
A maior parte das vítimas tem entre 15 e 24 anos. O índice de mortalidade entre homens nesse caso é de 209 por 100 mil habitantes. Já para as mulheres é 16 vezes menor -12,9 por 100 mil. São índices iguais aos de Cali, uma cidade conflagrada pelo narcotráfico, na faixa entre 25 e 29 anos em 1993.
A hegemonia do homicídio como causa morte dos jovens é um fenômeno recente. Em 1960, 52% dos homicídios na cidade concentravam-se na faixa acima dos 30 anos, segundo pesquisa de Maria Helena Mello e Jorge, da Faculdade de Saúde Pública da USP. Em 1991, 64,5% das vítimas tinham menos de 30.

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