São Paulo, domingo, 31 de março de 1996
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Motta tenta apoio de Maluf à reeleição já

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro das Comunicações, Sérgio Motta (PSDB), terá um encontro nesta semana com Paulo Maluf (PPB), prefeito de São Paulo, para tentar fechar um acordo sobre a emenda da reeleição.
Uma das opções que será oferecida a Maluf é começar a tramitação da emenda pelo Senado -e não pela Câmara, como é hoje.
O presidente Fernando Henrique Cardoso determinou aos seus assessores que trabalhem para ter a reeleição aprovada já neste ano.
Para isso, é necessário o governo convencer os partidos que fazem parte da sua base no Congresso. A idéia foi começar por Maluf, principal liderança do PPB e hoje um dos maiores adversários da idéia.
Receio do passado
Em princípio, Maluf é a favor da reeleição. Mas acha que FHC o enganou no ano passado. O presidente teria lhe dito que não se oporia se o Congresso quisesse aprovar o projeto em tramitação.
O pepebista entendeu a frase de FHC como manifestação da disposição do presidente em ver a reeleição aprovada. No entanto, tal empenho nunca ocorreu.
Em parte, porque o tucano não tinha certeza que aprovar logo a emenda seria conveniente para ele, FHC. E, também, por temer que isso atrapalhasse a aprovação das reformas constitucionais.
Agora, Maluf acha que já passou o tempo e a emenda não será aprovada para lhe permitir disputar a reeleição para a Prefeitura de São Paulo em 3 de outubro.
Além disso, Maluf avalia que um apoio seu agora equivale a entregar de bandeja para FHC o controle da situação no ano que vem.
O prefeito raciocina que a emenda pode até passar pela Câmara. Mas, ao chegar no Senado, emperraria por causa do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). Sarney é candidato à Presidência e contrário à reeleição.
Para FHC, esse cenário seria espetacular. Em 97, Sarney não será mais presidente do Senado. Com a emenda já aprovada pela Câmara, ficaria muito mais fácil para o governo passá-la pelo Senado.
Já para Maluf, o cenário é catastrófico. Ficaria sem mandato a partir de janeiro de 97. E isso não seria tudo. Se pretendesse levar adiante a idéia de candidatar-se a presidente em 98, pegaria FHC pela frente.
Por causa de todas essas ponderações, o prefeito voltará a apoiar a reeleição já apenas com a certeza absoluta de que a mudança valerá também para ele.
Confiança em Motta
Apesar de ter ficado desapontado com FHC, Maluf vê no ministro um interlocutor mais confiável. Acha o ministro das Comunicações mais claro que o presidente quando o tema tratado é reeleição.
Apenas se prosperar a conversa entre Maluf e Motta é que o governo levará adiante a estratégia.
O passo seguinte seria convencer o outro principal partido aliado, o PFL. Aí o presidente também encontrará resistências.
Apesar de ser o mais fiel dos partidos a FHC, o PFL tem planos eleitorais próprios. Para o presidente da sigla, Jorge Bornhausen, seria mais conveniente debater e aprovar a reeleição em 97.
Bornhausen raciocina que, no ano que vem, FHC e os tucanos serão mais dependentes do PFL. E o partido terá condições mais concretas para avaliar aonde vai desembocar o Plano Real em 98.
Se o PFL concluir que o plano continuará nos trilhos e que FHC será imbatível em 98, o partido então trabalharia para aprovar a reeleição. E exigiria uma participação cada vez maior no governo.

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