São Paulo, domingo, 31 de março de 1996
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"Se a morte chegar agora, fazer o quê?"

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O hospital estadual Barão de Lucena transformou-se há 11 dias no quartel-general dos ex-pacientes de Caruaru (PE).
Desde a primeira transferência, ocorrida dia 20, um total de 44 doentes foram hospitalizados. O aposentado Jorge Alves da Silva, 56, acredita que o pior já passou e que "todo mundo vai melhorar". Silva, que foi transferido de Caruaru no dia 27, disse que a intoxicação "deu defeito" em seu braço direito, mas que já se sente melhor em Recife.
"Passei mal, tudo lá era ruim", disse. O aposentado afirma que não tem medo de morrer "porque todo mundo vai um dia". "Se ela chegar agora, fazer o quê?".
Boletim médico divulgado pela Secretaria de Saúde informa que todos são considerados "pacientes de risco", apesar de alguns apresentarem "melhora do quadro clínico e bom estado geral". Ninguém ainda teve alta médica.
A rotina dos pacientes do 6º andar só é quebrada quando eles são levados para a hemodiálise, feita a cada dois dias, em outro hospital.
Segundo o médico Mário Henrique de Oliveira, a tarefa mais difíceis é controlar também o estado emocional dos doentes.
"A ansiedade deles é grande, o medo da doença evoluir também", disse o médico. "Eles ficam perguntando um para o outro como estão passando e alguns acham que vão morrer."

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