São Paulo, domingo, 31 de março de 1996
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O prejuízo recordista

JANIO DE FREITAS

A incompatibilidade é total, temos visto, entre o governo Fernando Henrique e investigações. É nenhuma, porém, entre o governo e motivos para investigações.
Se o assunto for sistema financeiro, por exemplo, não se precisa ficar nas investigações merecidas pelo favorecimento multibilionário dado pelo governo aos Magalhães Pinto, do Nacional. O governo fez do seu próprio banco um motivo de investigação a ser por ele também evitada, também a qualquer custo.
Quando o Banco do Brasil apresentou, ao final do primeiro semestre de 95, prejuízo em torno de um bilhão e meio, seu presidente, Paulo César Ximenes, apresentou como solução a dispensa de uns 20 mil funcionários e o fechamento de várias agências. Objetou-se que as dispensas, apresentadas como aposentadorias antecipadas e espontâneas, obrigariam o BB a um gasto que aumentaria seu prejuízo e só a prazo longo mostraria compensação na folha de pessoal.
As aposentadorias forçadas foram feitas. Pouco depois, Fernando Henrique Cardoso comunicava que "o prejuízo do Banco do Brasil já está sendo revertido pelo governo". Mas, quatro meses depois, o BB fechava 95 com o prejuízo, sabe-se agora, de R$ 4,2 bilhões, o maior prejuízo já registrado por um banco em todo o mundo e em todos os tempos.
Não se pode atribuir à "solução" das demissões o fato de o prejuízo do BB ter sido, no segundo semestre, quase o dobro do registrado no primeiro. A "solução" foi, no entanto, uma contribuição pesada para o desastre. Apesar disso, o Banco do Brasil está preparando nova onda de aposentadorias ditas espontâneas.
Espontaneidade que se realiza com todo o apreço que este governo tem pelos que trabalham. Assim: a direção relaciona, entre os funcionários com mais tempo de serviço, os que devem ser voluntários para a aposentadoria; quem não aceite, será dado como excedente em sua agência e transferido para um inferno qualquer no interior do interior.
As causas do prejuízo recordista do Banco do Brasil precisariam ser investigadas. A explicação de Fernando Henrique, segundo a qual o prejuízo vem de erros cometidos antes do seu governo, é um escapismo desqualificado. Primeiro, porque erros do passado, quando o BB não apresentou prejuízo, não explodiriam todos de uma vez. Segundo, porque, houvesse tal ameaça, medidas corretivas deveriam ser tomadas pelo menos nos últimos anos. E o Banco do Brasil está subordinado à responsabilidade de Fernando Henrique desde maio de 93, há quase três anos, quando assumiu a Fazenda.
Há muito a ser investigado no BB dos últimos anos, mas sobretudo no BB de 95.
Cama e mesa
Está por ser explicado o motivo de Sérgio Motta julgar necessário, de repente, mostrar seu conhecimento da anatomia recôndita de Fernando Henrique. Ninguém, afinal de contas, questionava o grau de intimidade entre eles, a ponto de Sérgio Motta precisar expor até onde a leva.
Se o mistério perdurar, pelo menos já se ficou entendendo um pouco melhor aquela expressão que parecia feita apenas pelos tamancos mentais de Sérgio Motta: a "masturbação sociológica", lembra-se? Bem que ele deu a dica.

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