São Paulo, domingo, 31 de março de 1996
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Estrada vira ponto de prostituição gay

PAULO MOTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CRISTAIS E ARACATI

Um trecho de 100 km em duas estradas federais no interior do Ceará transforma-se todas as noites em ponto de prostituição gay.
Residentes em pequenos municípios da região, gays e travestis agrupam-se em postos, entroncamentos e nas margens das BR-116 e BR-304 em busca de parceiros.
Chamados de "baitolas da estrada", eles usam as rodovias para driblar o preconceito que enfrentam em suas cidades de origem, no sertão cearense. Fogem de Fortaleza, onde a prostituição organizada reage com dureza à concorrência.
Seus clientes são, na maioria, motoristas de caminhão que circulam nas duas estradas -as principais ligações entre Fortaleza e os Estados de Pernambuco, Bahia e a região Sudeste.
Pobres, os travestis locais não têm acesso às técnicas para moldar o corpo segundo padrões femininos. Assim, carregam na maquiagem e em bijuterias que mal disfarçam seus traços masculinos.
Os travestis têm entre 14 e 30 anos e ficam em pequenos grupos. Cobram entre R$ 10 e R$ 20 por programas que duram entre 30 m e 2h. Faturam até R$ 500 por mês e sempre têm camisinhas.
A abordagem
Os gays abordam seus clientes na saída dos postos ou nas margens das estradas. Grupos de travestis também se formam num entroncamento em Boqueirão do Cesário, num posto fiscal em Cristais e numa boate em Aracati. O posto fiscal da Secretaria da Fazenda em Cristais (91 km de Fortaleza) é considerado o principal ponto de encontro dos "baitolas" ao longo da estrada.
O local é parada obrigatória para os motoristas que entram com carga no Estado. É ali que eles carimbam as notas fiscais e conseguem o salvo-conduto que permite trafegar pelas estradas do Ceará.
A abordagem dos travestis acontece durante o tempo que os motoristas levam para legalizar os documentos. Enquanto os fiscais verificam a documentação, os gays puxam conversa com os motoristas e combinam o programa.
Os travestis agem em conjunto com os "carreteiros" -grupo de adolescentes que recebem gorjetas dos motoristas para levar as notas até os fiscais, permitindo que eles descansem. Em combinação com os travestis, os carreteiros causam atrasos no trâmite dos documentos, aumentando o tempo para a abordagem.
Na maioria dos casos, a relação sexual acontece na cabine dos caminhões, que ficam estacionados às margens das estradas vicinais ou no pátio dos postos. A tabela de preços informal estipula R$ 10 para uma relação sexual tradicional, com o travesti como elemento passivo. A prática de sexo oral eleva o preço para R$ 15 e sobe para R$ 20 quando o gay tem que ser ativo.

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